Carmela Marcuzzo do Canto Cavalheiro

A oposição que o líder russo Alexei Anatolievitch Navalny exerce contra o governo de Vladimir Vladimirovitch Putin, no poder há mais de uma década, deve ser observada, tendo em vista que não é a primeira vez que um opositor ao governo encontra fortes retaliações. Navalny é crítico a Putin e ao partido político Rússia Unida do atual governo, o opositor relata que havia sido envenenado na prisão, após convocar manifestações em Moscou, pois os candidatos da oposição teriam sido impedidos de concorrer nas eleições locais. O motivo da prisão seria que as manifestações afrontariam a legislação russa.

A perspectiva histórica é importante para compreender a Rússia na atualidade. Em 1991 termina a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), ocorre a emergência da Federação Russa, que passa por um momento de bastante dificuldade em um verdadeiro colapso econômico. A transição para o capitalismo ocorre mediante graves dificuldades, na ausência de um Estado provedor de garantias sociais, há o empobrecimento da população e a redução da expectativa de vida, enquanto na maior parte dos países a expectativa de vida aumenta. Os movimentos separatistas na região do Cáucaso, localizada na divisão entre a Europa Oriental e a Ásia Ocidental, pela independência da Chechênia. Então, somente em meados da década de 1990 a economia russa volta a crescer.

A Rússia é um país bastante presente nas relações com a União Europeia (UE), principalmente pela dependência do gás russo. A Alemanha ao optar por fechar suas centrais nucleares se torna dependente de gás. Na prática, a equação demonstra uma difícil solução em garantir a segurança energética sem a energia nuclear em sua matriz, razão pela qual Angela Merkel prorroga com uma lei para 2036 o fechamento da última usina atômica ativa. Após o envenenamento do opositor Navalny, a Europa revê as implicações de uma grande dependência energética da Rússia no impacto da construção do segundo gasoduto, tanto sob a perspectiva ambiental como a relação com um Estado em que o respeito aos direitos humanos é questionável. O cenário político interno russo implica em consequências também para a dimensão econômica e comercial no âmbito da UE, pois o gasoduto traria a maior importação do gás russo como opção para um declínio na produção da Noruega e dos Países Baixos. A realidade russa traz consequências significativas para a Europa.

No caso do Brasil, é interessante observar alguns fatos relevantes na relação bilateral, no período do Primeiro Reinado, no ano de 1828, Brasil e Rússia estabelecem relações diplomáticas, estando ambos países sob monarquias. Após esse início, somente em 1892 as relações são restabelecidas, após a morte de Dom Pedro II, nesse sentido houve uma demora no reconhecimento da República do Brasil. Em tempos mais recentes, no governo do presidente, Fernando Henrique Cardoso, em 2000, há a inauguração da Escola do Teatro Bolshoi, na cidade de Joinville em Santa Catarina, sendo a única fora da Rússia.

No governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva houve destaque na área do esporte para a abertura de escolas de futebol brasileiras na Rússia, sendo citadas pelo presidente Dmitriv Medvedev como exitosas. Em termos geopolíticos, assim como o Brasil, a Rússia é um dos Brics, juntamente com a Índia, China e África do Sul. A cooperação bilateral aeroespacial é de alta relevância, como a pesquisa da modernização do Veículo Lançador de Satélites (VLS), a viagem do primeiro astronauta brasileiro ao espaço prevista no acordo, entre várias importantes parcerias tecnológicas. O Brasil é significativo exportador de carnes para a Rússia, e importador de armamentos russos. A Rússia possui uma dimensão política, comercial e econômica a ser observada nas relações internacionais com diferentes regiões e países.

Profa. dra. Carmela Marcuzzo do Canto Cavalheiro, Universidade Federal do Pampa (Unipampa), câmpus Santana do Livramento (RS), área de Direito Internacional é doutora pela Universidade de Leiden/Países Baixos.