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A repercussão da vitória de Biden e Harris na sociedade internacional

26 de Novembro de 2020 às 00:01

Carmela Marcuzzo do Canto Cavalheiro

Em seu discurso de vitória na cidade de Wilmington -- Estado de Delaware --, o presidente Joe Biden se dirigiu não só aos seus eleitores, mas também aos de Trump, demonstrando estar disposto a de fato iniciar um diálogo profícuo com toda a nação. Biden também se posicionou no sentido de agir com um plano eficiente para o combate da Covid-19, em que contará com uma equipe composta por renomados cientistas e especialistas diante da urgência da situação.

No âmbito das relações internacionais, o presidente eleito criticou a política de Trump do “America first”, em português, “América primeiro”, anunciando que atribuirá um papel central para as relações com outros países. O anúncio de Biden foi claro, retomará o Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, o diálogo com o Irã -- desde que o país respeite o acordo sobre o programa nuclear --, reverterá a saída dos EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS), priorizando o multilateralismo. A construção do muro na fronteira com o México será interrompida, havendo uma política para obtenção da nacionalidade estadunidense, ao mesmo tempo em que adotará mecanismo para coibir o que ele chama de “imigrantes ilegais incômodos”. O meio ambiente e a sustentabilidade aparecem bastante presentes na política de Biden, tendo em vista que ao longo de 10 anos há planos de investimentos de 7 bilhões de dólares na melhoria de estradas e pontes a partir da economia verde.

Para o mundo, a eleição nos EUA para a presidência e também da primeira vice-presidente mulher, Kamala Harris, de origem afro-asiática, demonstram uma retomada da importância dos valores democráticos. O resultado das eleições corroborará na valorização da democracia em razão da influência exercida pelos EUA sobre a sociedade internacional. Para o cientista político Tom Theuns, da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, não se pode mais dizer que a União Europeia (UE) possua somente democracias estáveis, observando-se a Hungria e Polônia. Esses países possuem índices de valores democráticos aquém daqueles almejados pelos Estados membros da UE, na edição de 2019 do “Freedom in the World Index”, ou seja o Índice de Liberdade do Mundo. Portanto, faz-se necessária a pesquisa a fim de evitar indesejáveis mudanças no único bloco regional supranacional existente no mundo. Nesse sentido, o novo cenário estadunidense terá reflexos e enfatizará a democracia como fundamental.

A relevância dos EUA como potência pode ser observada na rapidez com que vários líderes mundiais se pronunciaram parabenizando o presidente pela vitória. Entre alguns merecem destaque o primeiro-ministro neerlandês, Mark Rutte, que “em nome do gabinete disse felicitar calorosamente a Joe Biden e Kamala Harris por sua vitória nas emocionantes eleições presidenciais americanas”. A chanceler alemã, Ângela Merkel, que havia dito que Trump não era um líder confiável, agora cumprimentou o novo presidente eleito e disse “esperar uma futura cooperação com Biden”. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o presidente francês Emmanuel Macron, também se posicionaram no desejo em logo cooperar com Biden.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ressaltou que ele e Biden possuem uma calorosa relação de quase 40 anos, de forma a expressar que a relação bilateral entre Estados vai além do relacionamento entre governos. Na América do Sul, o presidente da Argentina, Alberto Fernández observa de forma estratégica que a vitória do democrata Biden pode significar uma parceria preferencial com os EUA na América Latina. O ano de 2021 trará novos rumos para a sociedade internacional, pois há um posicionamento mais favorável ao multilateralismo como mencionado por Biden durante a campanha. Os países para saírem melhor da pandemia dependerão de líderes que saibam dialogar nesse novo cenário internacional.

Profa. dra. Carmela Marcuzzo do Canto Cavalheiro -- Universidade Federal do Pampa (Unipampa), câmpus Santana do Livramento (RS), área de Direito Internacional -- é doutora pela Universidade de Leiden/Países Baixos.