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‘A promessa’, dos irmãos Dardenne no Cine Reflexão da Fundec

07 de Dezembro de 2018 às 00:01

‘A promessa’, dos irmãos Dardenne no Cine Reflexão da Fundec Roger e Igor: pai e filho parceiros na exploração dos imigrantes. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti

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Igor é o protagonista de “A promessa” dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne. Ele é um jovem que mal entrou na adolescência; como não frequenta a escola, legalmente obrigatória na sua idade, faz estágio como aprendiz em uma oficina mecânica de autos. Mas essa atividade é exercida secundariamente, porque sua função principal é a de fiel auxiliar do pai, Roger, na exploração impiedosa de mão de obra para a construção civil de imigrantes ilegais da África, do Sudeste Asiático e do Leste Europeu.

Os imigrantes entram na Bélgica em jamantas que transportam automóveis, são alojados em quartos, em péssimas condições, no próprio canteiro de obras, pagam aluguel e aquecimento. Pai e filho compõem uma parcela desse complexo à margem da lei que procura tirar proveito de imigrantes iludidos com o que a Europa lhes oferecerá em termos de trabalho e condição de vida; ou que procura atraí-los com promessas falsas que podem levá-los à escravidão sexual, como exposto no filme anterior deste ciclo, “A suíte paraíso”.

Os imigrantes de “A promessa” são ludibriados com vistos de permanência falsificados na maioria das vezes por Igor. O trabalho que lhes é oferecido é braçal e inseguro. Em uma das inspeções, pelas autoridades locais, na obra em que trabalham os imigrantes, um dos operários africanos, apressado em se esconder, cai de um andaime. Igor tenta ocultá-lo dos fiscais e o africano, sentindo que morrerá, faz que o jovem se comprometa a cuidar da sua mulher e do seu filho. Igor tenta convencer o pai a conduzir o ferido ao hospital, mas Roger, temendo que suas atividades ilegais sejam descobertas, se nega a fazê-lo. Algumas passagens do filme mostram a conivência da polícia com o comércio de imigrantes e também a hostilidade da população contra eles.

Igor e seu pai são apresentados como pessoas comuns, que encontramos diariamente nas ruas. Roger não parece ser o indivíduo empedernido e inescrupuloso que realmente é. Igor, por seu lado, acompanha fielmente o pai, cria mentiras com rapidez de raciocínio e desenvoltura, é frio, sem vestígios de piedade. Parece agir como um autômato na imitação do caráter do pai, incluindo no vício de fumar sem parar. Logo no início do filme, conserta o motor do carro de uma idosa e lhe rouba a carteira, fica com o dinheiro e enterra a carteira e os documentos, talvez para utilizá-los ilegalmente mais tarde.

“A promessa” trata da situação dos imigrantes como percebida em 1996, quando o filme foi produzido. O que se pode deduzir a partir da comparação deste filme com os mais recentes analisados neste ciclo é que as coisas hoje são piores para os imigrantes do que eram então. Os lucros do comércio de exploração de imigrantes pode ser alto, como vimos em “A suíte paraíso”, às vezes modesto, como neste “A promessa”. Estas diferenças de lucratividade de 1996 para 2015 decorram em parte do aperfeiçoamento e profissionalização do negócio ilícito envolvendo os imigrantes.

Serviço

Cine Reflexão

“A promessa”, de Jean-Pierre e Luc Dardenne

Hoje às 19h

Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita