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A obsolescência programada, o consumismo e seus impactos

26 de Dezembro de 2020 às 00:01

Maria Emília Rodrigues

Você tem a sensação de que é difícil acompanhar as novidades lançadas no mercado e de que os produtos não duram mais como antigamente? Já adquiriu algum produto que começou a apresentar problemas de funcionamento com pouco tempo de uso, mesmo não tendo nenhum defeito de fábrica?

Essas situações, cada vez mais comuns nos últimos anos, revelam o fenômeno da obsolescência programada (ou planejada), que trata de uma estratégia utilizada pelos fabricantes de tornar os produtos rapidamente ultrapassados para manter elevados os patamares de consumo.

A obsolescência programada pode ocorrer de duas formas: pela inovação tecnológica, buscando sempre apresentar alguma novidade ao consumidor, ou pela redução deliberada do tempo de vida útil das mercadorias.

Automóveis e eletroeletrônicos são os bens “duráveis” mais comuns dessa estratégia, em especial telefones celulares e computadores. Apesar de parecer que o fenômeno é recente e que se dá em função das rápidas inovações proporcionadas pelas tecnologias informacionais, ele remonta à década de 1930.

O documentário espanhol “Obsolescência Programada”, de 2010, demonstra que entre 1929 e 1930, durante a Depressão, a indústria de lâmpadas optou por reduzir sua durabilidade como forma de garantir mais vendas e driblar a crise de superprodução.

No mesmo documentário, um consumidor tenta consertar sua impressora que parou de funcionar, até descobrir que ela continha um chip que a programava para travar assim que atingisse certo número de impressões.

Tal situação tem sido cada vez mais recorrente, pois, não raro, nos vemos obrigados a adquirir novos produtos ao descobrir que não há conserto ou não há determinada peça disponível para troca ou sua reposição custará mais caro do que a substituição do produto.

Porém, é através da constante inovação que se encontra a forma mais sutil e não menos problemática de garantir a rápida absorção no mercado.

Lançamentos de um mesmo produto em um espaço curtíssimo de tempo -- com mudanças na sua aparência e pequenos incrementos nas suas funcionalidades -- convencem uma grande parcela da população que consome acriticamente qualquer “novidade”.

Influenciada pelos apelos publicitários em uma sociedade cada vez mais pautada na aparência e ostentação, acaba não percebendo que gasta e até contrai dívidas desnecessariamente.

Ainda que se possa alegar que as pessoas possuem autonomia para disporem de seus próprios ganhos da forma que bem entenderem, quando critica-se o comportamento de tipo consumista, há outras variáveis a serem examinadas nesta questão, que vão além da mera discordância sobre posturas individuais.

Além dos prejuízos financeiros pessoais, a obsolescência programada causa impactos ambientais extremamente danosos, que vão desde a quantidade cada vez maior de lixo acumulado e exploração de recursos naturais, até os poluentes encontrados tanto na fabricação quanto nos materiais produzidos.

E sobre este aspecto, cabe a nós enquanto consumidores e cidadãos, sempre parar para refletir antes de adquirir algum produto se ele realmente é necessário.

Pesquisar sobre os fabricantes das marcas questões relativas à garantia, troca, conserto, reparo ou reposição de peças também é uma maneira de nos protegermos contra gastos que poderiam ser evitados e de futuras situações incômodas. Bem como denunciar empresas que se utilizam das estratégias que forçam o consumo.

Maria Emília Rodrigues, mestra em Sociologia, professora da área de Humanidades do curso de Sociologia do Centro Universitário Internacional Uninter.