A nova política é a boa política
Maria Lúcia Amary
É inegável que o Brasil esteja vivenciando, há muitos anos, uma crise em praticamente todos os seus embriões societários. O resultado pode estar na constatação de que, nos últimos 90 anos de República, apenas 5 presidentes completaram os seus mandatos: Eurico Gaspar Dutra, Juscelino Kubitscheck, Lula, Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff (contando apenas o primeiro mandato). Ademais, foram tristes histórias de renúncia, doenças, mortes, suicídio, golpes e impeachment.
O resultado também pode estar no enraizamento da chamada velha política. Nas eleições de 2018, muito se falou neste assunto, fazendo-nos acreditar que estávamos frente a frente com o “novo”. Que a tão esperada mudança estava em nossas mãos, no momento do voto.
Ledo engano. Infelizmente, estou presenciando na presidência do Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo uma incontinência verbal sem precedentes, justo em uma legislatura de parlamentares renovada em 55% na última eleição. Dados registram que nenhum deputado foi julgado ou punido pelo Conselho desde 1999, situação que hoje se inverte.
As brigas e o desrespeito são reflexo de um ambiente de guerra e de polarização que estão à flor da pele em nosso País, em plena crise política, econômica, democrática, de credibilidade das instituições, somadas a uma crise de saúde pública alastrada pela pandemia do coronavírus. A falta de harmonia entre as grandes lideranças nacionais está visivelmente refletindo na população.
A política não foi feita para desagregar ou perseguir, mas sim para conciliar, contribuindo para a construção da paz e do fortalecimento das instituições democráticas.
Na fonte inspiradora da vida pública, que não deveria ser maquiada com estratégias e jogos de poder, desestabilizando os governos e comprometendo o desenvolvimento, não cabe vaidade, mas sim humildade e sensibilidade política. Entretanto, quando o importante seria melhorar a vida da população, a última coisa que está se discutindo é o interesse das pessoas.
Por isso, eu acredito que a nova política de que tanto se fala, só pode ser a boa política. Aquela que vise o desenvolvimento econômico, as agendas mundiais de emprego e renda, as reformas política, administrativa e tributária que tanto urgem no clamo da população em um dos países mais desiguais socialmente do mundo.
Uma política que garanta, finalmente, uma educação básica de qualidade para as nossas crianças, que mire e acerte, em definitivo, aquilo que deveria ser o princípio básico dos que conduzem a nossa Nação: o interesse de todos, o interesse público.
Entretanto, a pequena política, na ânsia desenfreada de ocupação de cargos, em total dissonância com o perfil da real necessidade cívica, somada a falta de harmonia entre as lideranças políticas geram insegurança na população. Afinal, quem deveria estar unindo forças para resolver ou melhorar o quadro social da cidade e do País, perde precioso tempo e oportunidade medindo força, numa guerra de egos, em que nunca haverá vencedores.
Maria Lúcia Amary é deputada estadual.