Buscar no Cruzeiro

Buscar

A maconha para uso médico

07 de Novembro de 2018 às 09:32

Dois estados americanos (Califórnia e Arizona) resolveram legalizar o uso da maconha para fins médicos, abrindo uma grande discussão sobre a liberação das drogas. O cânhamo (Cannabis sativa) é um arbusto de cujas folhas se extraem a maconha. É cultivado na China e Índia há nove mil anos, sendo utilizado para fins medicinais, como no tratamento da asma, cólicas menstruais e para melhorar o humor dos pacientes. O aumento no consumo do produto foi de 33% a partir de 1990, movimentando um mercado de cifras astronômicas. Entre nós, a produção da maconha é proibida, sendo considerada contravenção. A fumaça da maconha queimada contém 400 produtos diferentes, incluindo 61 carabinóides, dos quais três são mais importantes: canabidiol, tetraidrocanabinol e o canabinol, que são responsáveis pelos efeitos farmacológicos.

A maconha é usada por via inalatória (fumo), oral e endovenosa, exercendo o seu efeito no cérebro, para depois ser metabolizada pelo fígado e excretada pelas fezes. Os efeitos psicoativvos da droga têm início com euforia (bem-estar, alegria), seguido de sedação e tranquilidade, com duração de duas a oito horas. Ainda podem ocorrer distorções auditivas e visuais, assim como ilusões, dissociação de ideias e alucinações. Em altas doses surgem surtos de paranóia ou pânico e até psicose aguda, despersonalização e perda de consciência. Por outro lado, o uso crônico da maconha desenvolve rapidamente tolerância aos seus efeitos psicoativos, levando o indivíduo a fumar mais cigarros ou fazer uso de compostos mais potentes, como o haxixe, que é extraído da resina da planta.

A interrupção repentina da droga leva à síndrome de abstinência, caracterizada por tremor, náusea, vômito, irritabilidade, falta de apetite e distúrbios do sono. Todavia, os usuários crônicos do produto raramente precisam de cuidados médicos para a síndrome ou os sintomas decorrentes da dependência. Após a inalação da maconha o indivíduo apresenta aumento da frequência cardíaca (taquicardia), sem alterar a pressão arterial.

A maconha tem algumas aplicações na medicina moderna, como a diminuição da pressão intra-ocular (glaucoma), efeito antieméticos, aumento do apetite no câncer e na aids, melhora da asma brônquica, embora a retençao prolongada da fumaça nos pulmões desperte a bronquiolite. Até o momento não está comprovado que a maconha possa provocar câncer de pulmão, assim como não provoca alteração no centro da respiração, como as outras drogas ilícitas.

Um derivado da maconha -- o levonantradol -- apresenta efeito analgésico, anticonvulsivante e de relaxamento muscular. A maconha também pode diminuir o nível de testosterona nos homens (hormônio masculino), a contagem de espermatozóides, depressão da resposta imunológica (resistência do organismo) e atrofia cerebral.

A maconha é considerada o primeiro degrau no estímulo para o uso de outras drogas. Mas um estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP) mostrou que os usuários ds maconha são dependentes exclusivamente desta droga, enquanto os consumidores de drogas pesadas utilizam a maconha da mesma forma que o álcool, o tabaco, etc.

No momento existe em nosso país uma corrente que defende a liberação da maconha, argumentando que a droga não leva a uma dependência física como o álcool e o tabaco, da mesma forma que seu uso contínuo não provoca câncer ou cirrose como outras drogas ilícitas. Também não acarreta acidentes automobilísticos ou de violência doméstica ou pública, como o álcool. No entanto, até o momento a medicina não conhece exatamente os seus efeitos ou danos físicos e psíquicos.

Assim, a utilização da maconha para fins médicos ainda é insuficiente para justificar a sua total liberação. Como disse Epicuro: “Falsidade ou erro está sempre no juntar-se de uma opinião mal fundamentada”.

Artigo extraído do livro Doenças - Conhecer para prevenir (Ottoni Editora), de autoria do médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos, no dia 6 de junho de 2013.