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A luz estranha no céu

11 de Janeiro de 2019 às 08:06

A luz "estranha" no céu de Sorocaba. Crédito da foto: Pedro Evaldo Moraes / Reprodução / Arquivo JCS (9/1/1979)

Há 40 anos Sorocaba viveu uma experiência do outro mundo. Alertados numa noite de janeiro 1979, moradores e polícia ficaram alarmados com uma luz brilhante que surgiu no Morro da Mariquinha. Da noite para o dia nossa cidade se viu projetada nos noticiários como tendo recebido a visita de um possível disco voador e, quem sabe, seres extraterrestres, como se dizia à época. ET viria quase meio século depois. O fato é que Sorocaba teve seu dia de Roswell -- cidade no Novo México, EUA -- onde em 1947 teria havido a queda de espaçonave alienígena, termos ajustados para terminologia atual.

Resta perguntar por que tamanha repercussão? Nunca ficou provado que, de fato, tivemos naquela distante noite uma visita de alienígenas, ainda que se possa aceitar relatos testemunhais de pessoas e até a fotografia, que não permite concluir alguma coisa.

Talvez a resposta esteja no fascínio que temos pelo extraordinário, pelo oculto, o sacro.

A verdade é que perseguimos, de algum modo, uma luz que nos guie. Era comum as pessoas deixarem uma luz acesa à noite para que os notívagos encontrassem o caminho de casa, os faróis gigantescos como o de Alexandria, uma das sete maravilhas do mundo antigo que guiava os navegadores na ilha de Faros. Estrelas da constelação de Orion teriam inspirado os egípcios a construir suas pirâmides e na América Latina há dezenas de observatórios estelares ou edificações voltadas para as estrelas construídos pelas civilizações astecas, incas, olmecas e outras.

O fascínio pela luz que guia está na Bíblia em vários momentos, em particular no nascimento de Cristo: a Estrela guiou os três Reis Magos até o Messias.

A luz na escuridão. A espera por uma salvação milagrosa vinda do céu. O mito da salvação por uma luz divina e até o Espírito Santo têm em comum a luz que nos mostra para onde ir. Esse conceito de uma luz associada à divindade ou a uma salvação também sobrevive em nossas esperanças mundanas. Olhamos para o Planalto Central, para o novo governo com a mesma expectativa de quem procura a luz para um caminho seguro.

O disco voador de Sorocaba, que apareceu no mês que se comemora no calendário cristão o dia de Reis, faz refletir sobre a metáfora da esperança em alguma coisa, num Salvador a que não tenha sido contaminado pelo humano, ao menos não pelo lado ruim do humano.

Essa metáfora cabe para o Brasil sem precisar sair deste planeta nem de casa.

Espera-se que alguma luz aponte em nossa direção. Uma luz de inteligência, sensibilidade e abrangência solidária. Nada de divino ou de salvação milagrosa. Apenas uma luz que desperte em todo Brasil o nosso melhor lado humano para um país mais justo.

José Feliciano é médico, escritor e observador das coisas do céu.