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A imagem de Deus

15 de Setembro de 2019 às 00:01

Dom Julio Endi Akamine

O que é o ser humano? Sobre nós mesmos podemos ter muitos conhecimentos verdadeiros e outros falsos. Se, por exemplo, tivermos do ser humano uma concepção puramente materialista, cairemos na negação de toda transcendência. O ser humano seria assim apenas um animal dotado de um cérebro mais evoluído, cuja vida está encerrada no período em que as suas funções vitais permanecem ativas. A felicidade, nessa concepção antropológica, consistiria em curtir o momento com sofreguidão, uma vez que o futuro é incerto e sempre ameaçado pela morte.

A fé cristã nos abre para uma visão bem mais positiva e realista. Jesus, revelando-nos o amor do Pai, nos revelou o que nós somos (GS 22). A fé nos dá a visão daquilo que, em última análise, nos caracteriza com maior radicalidade: a nossa relação com Deus. Gn 1,26s indica a especial dignidade do homem na sua condição de imagem de Deus.

De todas as criaturas visíveis, só o homem é capaz de conhecer e amar o seu Criador; é a “única criatura sobre a terra que Deus quis por si mesma” (GS 24); só ele é chamado pessoalmente a partilhar, pelo conhecimento e pelo amor, a vida de Deus. Com este fim foi criado, e essa é a razão fundamental da sua dignidade (CatIgCat 356).

O ser humano é uma criatura privilegiada de Deus enquanto criada à sua imagem e semelhança, chamada à comunhão com Deus e à participação na Sua vida através do conhecimento e, sobretudo, através do amor.

Porque é criado “à imagem de Deus”, o ser humano possui a dignidade de pessoa: ele não é somente alguma coisa, mas alguém. É capaz de se conhecer, de se possuir e de livremente se dar e entrar em comunhão com outras pessoas. E é chamado, pela graça, a uma Aliança com o seu Criador, a dar-Lhe uma resposta de fé e amor que mais ninguém pode dar em seu lugar (CatIgCat 357).

A condição pessoal do homem está relacionada com a da imagem (CatIgCat 357). Há boas razões para isso, uma vez que a questão da imagem é centrada na relação com Deus. Duas características do ser pessoal são colocadas em destaque: de um lado, a capacidade de conhecer e de se possuir; de outro, a possibilidade de se doar livremente e de entrar em comunhão com os outros. Os dois aspectos são igualmente importantes.

A razão última da dignidade peculiar do ser humano é portanto a vocação à aliança com o Criador e o chamado à resposta de fé e de amor. A condição pessoal, “de sujeito” do homem não pode ser desligada desse chamado à vida divina. O homem é “alguém” e não somente “algo”, sobretudo porque Deus quis criá-lo como seu interlocutor. Se Deus criou o ser humano com essa capacidade de posse de si mesmo e de doação de si mesmo, foi para que pudesse se doar livremente a Deus e aos irmãos. O ser pessoal alcança a sua plenitude no dom e no amor, no seguimento de Jesus.

Dom Julio Endi Akamine arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba.