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A escola e o confinamento social

25 de Abril de 2020 às 00:01

Catarina Hand

Nas últimas décadas, pesquisadores têm se preocupado em inserir as novas tecnologias dentro da escola. Começou com o uso da televisão como instrumento didático, vieram os vídeos cassetes que muito facilitaram as “escolhas dos programas” que deveriam ser contemplados na dinâmica pedagógica. Estas foram substituídas pelos DVDs, que antecederam os canais fechados. As cópias xerocopiadas livraram os olfatos do cheiro de álcool dos mimeógrafos. Lousas digitais foram requeridas por docentes, projetores de power-point substituíram as simples transparências. A internet “abriu portas e janelas” para todas as possibilidades, em todas as idades, basta haver o professor.

No entanto, o paradigma mudou, de forma súbita e sem aviso. Alunos, pais e professores não foram preparados para ver a escola inserida na internet e não mais a internet inserida na escola. O Brasil acordou, em um lindo despertar, e se deu conta que a sala de estar de sua casa tornou-se sala de aula. Como aprender e/ou ensinar neste contexto? Esta situação é inédita para todos. Os profissionais da educação nunca passaram por algo parecido e ninguém os ensinou o que e como fazer. Recebendo ajuda de instituições que se especializaram em educação a distância e ajudando uns aos outros, as escolas estão se aproximando ainda mais dos pais e alunos. Distantes, mas lado a lado, a população pode contar com esses profissionais, como sempre contou. Nessa conjuntura, as rotinas das escolas mudaram, professores encaram o desafio de engajar seus alunos e garantir suas aprendizagens a distância, com ferramentas digitais e, muitas vezes, com carência de recursos tecnológicos e dificuldades de acesso à internet.

Se a escola já tinha que se comprometer com a educação e garantir a aprendizagem de todos os discentes, é um desafio ainda maior fazer isso com o distanciamento social e a desigualdade de acesso à internet. As escolas públicas necessitam da ajuda de outras instituições da sociedade civil para superar essa barreira. Como? Aprendendo juntos a utilizar a solidariedade para multiplicar os saberes e possibilidades. Diante do compromisso social com a educação pública de qualidade e para todos, já há ações que possibilitam o acesso à internet à população infoexcluída. Muitas instituições, incluindo as próprias escolas, estão liberando espaço de acesso à internet à população carente, com todos os cuidados de higiene e isolamento necessários ao respeito e segurança de todos.

Escolas e governos estão preocupados com a quantidade de dias letivos e carga horária exigidas em lei, tanto que o Governo Federal alterou a atual legislação. A medida dispensa a obrigatoriedade de dias letivos previstos na lei, mas não diminui a carga horária mínima anual, de 800h. Mas não faz sentido, neste momento em que se atravessa uma pandemia mundial, preocupar-se com dias letivos e carga horária. O fundamental, mesmo, é manter alunos e professores vivos, com saúde física, mental e emocional, para continuarem trabalhando no processo ensino/aprendizagem. Mesmo porque, a frase que se ouve aos brados: “vai passar”, não condiz com o que está havendo na educação. A escola nunca mais deixará de estar inserida na internet, nunca mais será a mesma. Ao final do confinamento, a população saberá como usar a tecnologia para manter viva a conexão entre as pessoas, disponibilizando informações de qualidade para ajudar no desenvolvimento dos seus alunos e oferecendo mais ferramentas de aprendizagem.

Catarina Hand é mestra em Educação e professora na Uniso. ([email protected])