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A cultura da cola e a ética dentro das universidades

07 de Maio de 2019 às 00:01

Texto coletivo

Frequentemente os valores éticos da sociedade são questionados, quer seja em áreas como política, religião ou ciência, quer seja no trabalho ou na vida cotidiana. O que é correto? O que é ético ou moral? Entre o querer e o poder, Mário Sérgio Cortella, filósofo e professor, defende que existem questões que devem ser exploradas antes de realmente fazer algo por impulso, as quais devem sempre ser precedidas pela pergunta: “Eu devo?”.

Os termos ética e moral geram confusão no sentido de se imaginar que são sinônimos, porém, conceitualmente e filosoficamente, são distintos. A ética refere-se à conduta ou à postura pessoal necessária para convivermos bem em sociedade; já a moral possui um cunho mais prático, ou seja, são os costumes ou ações que são ditas como “certas” ou “erradas” e que são determinadas de acordo com o padrão cultural em vigor. Além disso, a ética também pode ser definida como sendo um estudo ou reflexão sobre moral.

Perante tantas problemáticas sociais que têm se manifestado em nossa sociedade, dando ênfase à atual situação do país, percebe-se a necessidade de tratar desse assunto, a ética. Mesmo os responsáveis por governar nosso país se veem envolvidos em escândalos, o que torna sugestiva a existência de um vazio ético. Nesse contexto, trazendo para um cenário mais próximo, o qual convivemos todos os dias, tanto nas escolas, quanto nas universidades, identifica-se uma atitude muito comum: a cola.

Colar se tornou frequente; e a normalidade com que é tratada essa prática criou a chamada “cultura da cola” entre os estudantes, o que leva a crer que essa atitude representa falta de ética por parte daqueles que a praticam. Esse aspecto é preocupante, visto que, futuramente, isso pode vir a manifestar-se no exercício profissional, caracterizando-se como uma forma de corrupção.

Os sistemas culturais e sociais em que a sociedade está inserida colaboram para um aumento dessa prática, como foi constatado pelas pesquisadoras Aurora Teixeira e Fátima Rocha, da Universidade do Porto, através de uma pesquisa realizada com 21 países, entre eles o Brasil. Analisando a cola entre os universitários e as taxas de corrupção dos países correspondentes, constatou-se que, países com altos índices de cola, geralmente apresentam problemas de corrupção.

Deve-se estabelecer um compromisso ético dentro das escolas e universidades. É claro que para tal feito demanda-se tempo, uma vez que essa “cultura”, já muito banalizada, necessita ser mais discutida nas universidades, como uma questão de conscientização aos valores morais e éticos. É preciso analisar toda a questão social, o ambiente escolar, se existe uma real preocupação perante as escolas em se trabalhar isso, ou qual a relação com a forma de avaliação dentro das universidades.

Uma maneira de reverter esse ato é tentar mudar a forma como as avaliações são aplicadas, o que deve ser trabalhado ao longo do tempo. Em geral, os alunos são vigiados durante a prova, isso porque infelizmente se considera a desonestidade dos estudantes e não sua honestidade. É claro que se de repente o professor resolver não vigiar uma prova, isso pode não trazer resultados muito benéficos. Porém, pode-se tentar trabalhar a honestidade do aluno ao longo do tempo, aplicando-se, por exemplo, questionários de autoavaliação acerca da nota que merecem receber, fazendo-os refletir se essa nota foi obtida honestamente ou não. É necessário que, ao adotar esse método, os alunos estejam cientes que a questão aqui não se trata de tirar uma nota alta ou baixa na prova, e sim, se durante as avaliações eles foram honestos ou não. Por fim, essa pode ser uma alternativa para fazer os alunos refletirem sobre seus próprios valores éticos e morais.

*Texto coletivo de Maria Alice Frias Urbano, Daniele Oiafuso Didoni e Lais Cristina Marquardt, que são graduandas em Engenharia Ambiental pela Unesp-Sorocaba. José Arnaldo Frutuoso Roveda é professor da Unesp-Sorocaba.