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A caçada

21 de Dezembro de 2018 às 00:01

Acusado de terrorismo na Itália, condenado à prisão perpétua por 4 mortes, Cesare Battisti deveria ser vigiado por onde passasse, como é feito pelas policias de todo mundo. Entretanto viveu no Brasil como bem quis, casou-se e trabalhou protegido como um asilado político, no mínimo suspeito. Tão logo o ministro Luiz Fux pediu para reavaliar seu caso, já com decisão anterior do STF acatando a extradição, Battisti fugiu. Seria de se esperar que a PF estivesse vigiando o terrorista. Até porque já fugira antes. Qualquer terrorista, em países minimamente sérios, já estaria sob vigilância. No entanto, Battisti fugiu e até as pedras do planalto sabiam que iria acontecer já que meses antes ele tentara passar a fronteira do Brasil com a Bolívia levando dinheiro não declarado.

A caçada continua! Bureau de Inteligência Policial - Brasília.

Boletins dos agentes policiais sobre a captura do terrorista Cesare Battisti ao senhor Ministro da Justiça:

Agente 01: Bahia - Sexta-feira, 19h, hora oficial de Brasília (H.O.B.), informo à V.Sa. que prendemos Cesare Battisti. Embora bem disfarçado, nossa equipe não se deixou enganar, o mesmo foi preso trajando bata e miçangas, carregava um violão e apesar de magro e do sotaque, foi reconhecido quando cantava vitórias pelas suas fugas: -- “Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento”. Depois de pequeno entrevero com os cinco mil simpatizantes que esperavam por ele, devolvemos do nosso bolso o dinheiro dos ingressos para evitar mais violência (segue nota de despesa para ressarcimento). Quando nos viu gritou: “Maínha!”. Em vão. Demos o maior pau nele! segue algemado para Brasília com outros asseclas que atendem pelas alcunhas de Gal, Gil e Betânia.

(PF - o braço da lei que malha os bíceps)

Agente 81: Patagônia: Sexta-feira, 19h01 (H.O.B.). Aqui está um frio do cacete, mas acabamos de prender Battisti, embora muito bem disfarçado, foi reconhecido numa banquisa de gelo, numa espécie de festa a rigor, trajando um “smoking” e carregando um peixe na boca, prestes a longa marcha para o Sul. Segue engaiolado junto com um ovo (provável prova de suas transações).

(Interpol - As garras da lei que fazem manicure)

Agente 42: Rio de Janeiro: Sexta-feira, 19h02 (H.O.B.) Cesar Battisti preso. Fim da perseguição. Acuado no morro entregou-se de braços abertos sobre a baía da Guanabara, deixou barba e engordou muito, 800 toneladas, sem os holofotes, solicitamos guindaste para removê-lo para Brasília (custos para reembolso em anexo); tivemos que descer o porrete em diversos turistas e confiscamos suas máquinas fotográficas, possivelmente davam cobertura ao fugitivo, sendo levado para Brasília.

(Polícia de imigração - temos faro para o crime e pelos escovados)

Agente 132: Alto Xingu: Sexta-feira, 19h03 (H.O.B). Battisti acuado! Grande dificuldade para detê-lo, abatido e sujo deixou a barba crescer até os tornozelos, pelo jeito só conseguiu sobreviver graças a uma dieta de bananas. Empreendeu fuga por entre as árvores enroscando o rabo de galho em galho. Criminoso na mira, apenas um galho nos separa dele!

(Polícia de Floresta - o olho da lei que não entra cisco)

Agente 93: Sexta-feira, 19h04 (H.O.B) - Atlântico Norte - Battisti localizado saindo de um tubo de onda; está bastante mudado. Barbatana e mandíbula muito reais. Grande vigor físico para nadar e apetite maior ainda. Foi detido graças a um golpe de braço de um de nossos agentes. O terrorista segue num tanque de água para Brasília (nota de despesas de transporte anexo) pedimos manter o braço do agente no gelo.

(Polícia litorânea, uma polícia que não entra em qualquer onda)

Relatório final: Informamos que todo esse trabalho de captura só foi possível graças a inestimável ajuda de um simpático italiano residente em Cananeia que viaja com a gente.

PT. (Comando central de inteligência policial daqui nada escapa) Saudações.

A coisa tá feia. Tem ‘amigo secreto‘ mandando bilhetinho pedindo resgate!

José Feliciano é redator de humor e mistérios e médico que acredita em Papai-Noel -- Feliz Natal.