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Marcelo Augusto Paiva Pereira

Cidades para pessoas

30 de Setembro de 2025 às 21:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: FREEPIK)

Foi o arquiteto dinamarquês Jan Gehl quem criou o conceito de cidades para pessoas, em obra literária de mesmo nome, na qual examina as cidades com foco nas pessoas e não nos automóveis. A ele, as cidades devem ser planejadas para priorizá-las. Para tanto, há medidas de escalas a serem utilizadas nos projetos das cidades. Abaixo seguem alguns comentários.

Desde o sucesso industrial e comercial do automóvel, iniciado nos Estados Unidos da América por Henry Ford nos primórdios do século XX, as cidades foram desenhadas para acolher este inédito meio de transporte, que reduz o tempo de longos percursos urbanos ou extensas viagens entre cidades. Os efeitos se protraem até o presente.

A escala humana, destinada a espaços de convívio entre pessoas, deixou de ser aplicada nos projetos de cidades para acolher a escala urbana (de maior dimensão), que as tornou mais adequadas ao trânsito dos automóveis, os quais dominaram os espaços urbanos com grandes quadras e extensas vias públicas, de elevadas velocidades, incompatíveis com os espaços às pessoas e em prejuízo à estas.

Quando projetadas na escala humana, tornam-se mais adequadas a elas, que convivem em espaços pequenos, detalhados, de uso misto (habitação e comércio) e em atividades sociais e de lazer. Nestes, a velocidade é reduzida ao pedestrianismo e ao uso de bicicletas, em benefício do conforto urbano (em geral) e do lazer pessoal e familiar (em especial). Nestes espaços, as vias públicas são destinadas às pessoas.

Para as cidades favorecerem as pessoas será necessário criar e distribuir espaços ao uso (priorizado) de transporte público às atividades essenciais (trabalho e estudo) e ao ciclismo e pedestrianismo ao lazer e às atividades sociais. Às primeiras prevalecem a escala urbana e às últimas, a humana.

“Boulevards”, calçadões, cercas vivas, diferentes alturas das edificações, mobiliário, paisagismo, praças e terraços são espaços de transição projetados na escala humana (entre o público e o privado), demarcam território e se integram com outros, destinados ao uso misto e às atividades essenciais. Servem de divisões (limites) entre os espaços aos automóveis e às pessoas, com vistas ao conforto destas.

Conclusivamente, as cidades para pessoas dependem do resgate da escala humana para projetar espaços ao lazer e às atividades sociais a elas, separados dos destinados aos automóveis, cuja escala urbana é maior. Sem um projeto de recuperação ou adaptação, o automóvel continuará a dominar as cidades, reduzindo e prejudicando o conforto, o convívio e o lazer das pessoas. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.