Fernanda Burattini Monteiro de Carvalho Caires
Onde está o seu tesouro?
O pastor Renato Camargo, autor desta coluna, passou por uma cirurgia de urgência, que o impossibilitou de escrever para este jornal, nesta semana. Ele passa bem e logo estará de volta a seus afazeres, se Deus assim permitir.
Para tanto, fez um convite inesperado a mim para escrever este conteúdo, na condição de jornalista, membro da igreja onde ele ministra e participante do seu ministério, assim como colaboradora do trabalho deste veículo de comunicação. Longe de ser teóloga ou tamanha conhecedora da Palavra como o pastor Renato, sou apenas uma serva de Cristo, que aceitou esse desafio e espera poder usar esse espaço da melhor forma possível, para dividir com os leitores uma experiência transformadora vivida com Deus.
Certa vez, ao pegar um veículo de aplicativo para ir ao trabalho, depois de algumas conversas corriqueiras com o motorista, ele espontaneamente fez uma das perguntas mais simples e, ao mesmo tempo, mais profundas que alguém já me fez: “qual é o tesouro que você guarda no seu coração e que um dia levará consigo e entregará a Deus?”
Aquele questionamento, aparentemente despretensioso, alugou um triplex na minha cabeça, como dizem. Sem exagero, fiquei pensando nisso por dias e confesso que, vez ou outra, ainda penso.
O que, afinal, eu estava cultivando no meu coração? A que — ou a quem — estava dando prioridade? O que me motivava a seguir em frente todos os dias?
Naquela ocasião, confesso que algumas respostas que dei a mim mesma me perturbaram bastante. Eu passava mais de 12 horas, por dia, trabalhando, fazia compras diversas por impulso pela internet, não dialogava — muito menos convivia como antes — com meu marido e filhos e reservava pouco — ou nenhum tempo — para o lazer ou o cuidado comigo mesma. Eu basicamente vivia preocupada com o dia de amanhã. Era como se não estivesse vivendo o aqui e o agora. Não desfrutava da vida e sentia um vazio que me consumia por dentro.
Um alento em meio a tudo isso foi que nossa família — muito graças a meu esposo — cultivava a espiritualidade. A fé em Deus persistia, apesar de nós mesmos e de nossos muitos erros, e isso fez toda a diferença sobre a forma como respondemos, hoje em dia, todas essas questões.
Na Bíblia, os apóstolos Lucas (12:34) e Mateus (6:21) relatam o que disse Jesus: “Pois onde estiver o vosso tesouro, aí também estará o vosso coração”. Esse versículo resume perfeitamente a pergunta feita, de forma despretensiosa, por aquele motorista e nos convida a refletir sobre o que valorizamos na vida. Para onde estamos canalizando toda nossa energia e tempo? Que tipo de “riqueza” estamos acumulando durante nossa breve passagem por este mundo? Que tesouro está guardado em nosso coração e que consequentemente um dia entregaremos a Deus?
A fé em Deus, que misericordiosamente permanecia em nossa família, nos possibilitou iniciar um novo capítulo da nossa história, a partir do trabalho do Espírito Santo nessas áreas e assuntos. Não foi um processo simples e rápido. Longe disso! Demandou escolhas difíceis, como abrir mão de certas oportunidades profissionais e amizades, e exigiu tempo, alguns anos até. Dia após dia, prioridades foram sendo redesenhadas e o trabalho incessante, a busca pelo sucesso profissional e a conquista dos bens materiais passaram a não ter a mesma importância. Ficaram em segundo, ou terceiro plano, para que outras agendas e valores ganhassem mais espaço: convívio em família, cuidar da saúde, intimidade entre o casal, leitura da Bíblia, servir em comunidade, isto é, Deus nos transformou e permitiu amar mais as pessoas, do que as coisas! Com tudo isso, sabe aquele vazio que comentei que existia? Até que enfim, depois de tanto tempo, ele foi sendo preenchido e desaparecendo.
Convido você, que está lendo esse artigo, a se fazer a mesma pergunta que um dia me fez aquele motorista de aplicativo — e amigo: qual é o tesouro que você guarda no seu coração e que um dia entregará a Deus? Espero que, assim como em nós, esse questionamento faça fortalecer a fé que habita em você para que o amor e as pessoas continuem crescendo na sua vida, de tal forma que não haja muito espaço para as outras coisas menos importantes.
Fernanda Burattini Monteiro de Carvalho Caires é jornalista, casada com Jairo, mãe do Pedro e da Sara e membro da Igreja Comunidade Presbiteriana do Campolim.