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Renato de Oliveira Camargo Junior

Interdependência ou morte

06 de Setembro de 2025 às 19:18
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: REPRODUÇÃO)

O grito de Dom Pedro I, às margens plácidas do riacho do Ipiranga, ao mesmo tempo em que reclamava a Independência do Brasil, invocava o espírito de coletividade e interdependência entre os brasileiros. Sem o esforço conjunto que se sucedeu, em diferentes setores da sociedade, e em diversas regiões do País, a tão sonhada ruptura com Portugal nunca teria sido consolidada.

A união das lideranças políticas, locais e regionais, acabou legitimando o movimento, mostrando que não era apenas interesse de uma elite isolada, mas um anseio crescente de âmbito nacional. Conscientes disso, nossas tropas militares, unidas pelo mesmo ideal, foram incríveis nos confrontos contra as tropas portuguesas na Bahia, no Maranhão, no Piauí e no Grão-Pará.

Duzentos e dois anos depois, aqui estamos nós, independentes de Portugal, mas sofrendo as agruras de uma polarização política que tem dividido a nossa Nação. Por causa dela, famílias têm se afastado, igrejas têm sido destruídas, informações têm sido deturpadas e os maiores prejudicados com isso tudo somos nós mesmos.

Nesse contexto, o início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro funciona como lenha na fogueira. De um lado, estão aqueles que minimizam a chamada “trama golpista”; do outro, aqueles que veem uma oportunidade clara de se livrarem de seus inimigos, pavimentando o estabelecimento de seus interesses políticos. A tensão pode ser percebida no ar e tem tirado a tranquilidade de muita gente.

Certa feita, Jesus disse: “Todo reino dividido contra si mesmo será arruinado e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá” (Mateus 12:25). Essas palavras surgem como um alerta importantíssimo no contexto atual, pois ressaltam o fato de que a divisão é um mal muito maior do que costumamos conceber. A divisão leva à ruína!

Isso não significa que devemos abrir mão da nossa consciência, a fim de termos todos a mesma opinião, sobre os mais variados assuntos, mas que precisamos resgatar algumas virtudes essenciais que funcionam como antídotos contra a divisão. Essas virtudes são encontradas na pessoa de Jesus, que disse: “...aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração...” (Mateus 11:29).

Jesus era manso e isto não significa que ele era fraco. A palavra “manso” na Bíblia refere-se a um animal forte como o cavalo, que se deixa domesticar. Ou seja, o manso é aquele que consegue controlar a si mesmo, a fim de ouvir sem levar para o lado pessoal e falar sem tentar destruir o outro, pois trabalha com a lógica ensinada pelo apóstolo Paulo: a lógica da “verdade em amor” (Efésios 4:15).

Jesus também era humilde — muito embora possa parecer esquisito que alguém humilde fale isto de si mesmo. Mas, o que Ele estava tentando dizer é que não estava considerando a glória que tinha junto com o Pai para relacionar-se conosco ou não. Ele se apequenou diante de nós como quem se agacha diante de uma criança para servi-la. Essa humildade abre espaço para a convivência e para a paz!

Que, neste domingo de celebração da Independência, sejamos gratos a Deus pela oportunidade de termos um País soberano, mas, ao mesmo tempo, nos conscientizemos da necessidade de sermos um País unido. Que as nossas diferenças sejam todas enfrentadas com o mesmo espírito de mansidão e humildade que estavam sobre Jesus, a fim de não permanecermos vassalos da intransigência que leva à ruína.

Renato de Oliveira Camargo Junior é teólogo formado pelo Seminário Presbiteriano do Sul, pós-graduado em Liderança pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, doutor em Ministério pelo Missional Training Center, professor de Homilética e Prática da Pregação no Seminário Presbiteriano do Sul e Pastor Plantador da Comunidade Presbiteriana Campolim, em Sorocaba-SP.