Celso Ming
Bancos centrais sob ataque
Em matéria de política de juros e de administração de um banco central, o presidente Donald Trump, a ministra das Relações Institucionais do governo Lula 3, Gleisi Hoffmann, a ex-presidente Dilma Rousseff e alguns cartolas da Fiesp, como o vice-presidente Rafael Cervone, todos pensam igualzinho: querem um banco central submisso a seus interesses, e não empenhado na sua missão de garantir a força da moeda.
O presidente Trump está empenhado em transformar o FOMC (o Copom do banco central dos Estados Unidos) em agrupamento que ele controle. No momento, trabalha para demitir uma de suas diretoras, a economista Lisa Cook. E, mais do que isso, quando pode, lança uma profusão de granadas sobre a reputação do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell. Já o chamou de “muito burro” e de mal intencionado. Nesta terça-feira, por exemplo, disparou mais essa: “Temos um homem que trabalha contra nossa economia. É Jerome ‘Atrasado Demais’ Powell”.
Trump já dinamitou importantes instituições que compõem a ordem mundial. Não surpreende que faça o mesmo com o Fed. O problema é que isso traz consequências.
Cada vez que os políticos ameaçam controlar um grande banco central, a credibilidade da moeda do país é submetida à corrosão. Se o preço do dólar (juros) passa a ser o resultado de canetadas impostas pelo maioral da hora — como aconteceu com o real, no Brasil do período Dilma — já não há como confiar na moeda como reserva de valor. Por enquanto, não há o que o possa substituir o dólar nessa função.
Mas os sintomas de enfraquecimento estão pipocando no mercado global: os juros de longo prazo vão se esticando; as cotações do ouro batem recordes de alta; e grandes detentores de reservas globais começaram a diversificar seus ativos.
Político adora gastar. Faz de tudo para inflar o orçamento que tem em mãos. Se não houver uma instituição encarregada de retirar do mercado o excesso de moeda emitido pelo governo e, nessas condições, de impor o nível dos juros necessário para conter a inflação, o resto da economia se desarruma.
Daí a importância de blindar a administração de um Banco Central responsável contra imposições do governo e de seus aliados. Nesse sentido, de nada adianta combater apenas os juros altos — que ninguém deseja —, sem enfrentar a causa principal do problema, que, em geral, é o descontrole fiscal.
Trump não está sozinho, nem lá nem aqui. Agora, não é só o PSOL e os mais radicais do PT que se insurgem contra a autonomia do Banco Central do Brasil, instituída em 2021. Nesta semana, os líderes do Centrão na Câmara apresentaram requerimento para acelerar a tramitação de projeto de lei que permite a demissão pelo Congresso de diretores do Banco Central, caso contrariem o mandachuva da hora. A proposta submete o Banco Central do Brasil ao apetite de gastança dos políticos.
Celso Ming é comentarista de economia.