Marcos José Rogich
Um amor incondicional por Sorocaba: a vida e o legado de Porphírio Rogich Vieira
Uma honra escrever sobre meu saudoso pai, Porphírio Rogich Vieira, definido como uma pessoa multifacetada (fotógrafo, professor, historiador, pesquisador, palestrante e escritor), foi exemplo de determinação e generosidade. Um sorocabano ilustre que tanto amava nossa cidade.
Descendente do industrial húngaro Antonio José Rogich (indústria de chapéus) e do bandeirante paulista Miguel Sutil de Oliveira (fundador de Cuiabá), nasceu em 8 de janeiro de 1929, no meio da rua XV de Novembro, como ele gostava de dizer, pois, a casa de sua mãe literalmente atravessava a via naquela época. Em 1940, parte do quarto dela foi desapropriada, em razão da necessidade de alargamento da referida rua.
A data de seu nascimento foi marcante em sua vida, pois, 8 de janeiro é comemorado o Dia Nacional do Fotógrafo e da Fotografia. Além disso, janeiro de 1929 entrou para a história como a maior enchente que Sorocaba já viu.
Muito cedo aprendeu o ofício de fotógrafo, trabalhando em alguns estúdios fotográficos da cidade. Posteriormente destacou-se como proprietário do Foto Repórter Vieira, famoso estúdio localizado na rua Carlos Gomes, 47, (Beco da Catedral). O local era frequentado por diversas camadas da sociedade que vinham adquirir fotos dos bailes de carnaval, debutantes, casamentos, aniversários e demais acontecimentos sociais da cidade.
Foi o primeiro fotógrafo da Polícia Técnica de Sorocaba. Atuou também como fotógrafo repórter de jornais (Cruzeiro do Sul, Diário de Sorocaba e Diário da Cidade) e ainda, professor titular de fotografia judiciária na Academia de Polícia do Estado de São Paulo. Doou os negativos de seu acervo fotográfico (50 anos de trabalho) ao IHGGS, contribuindo para a formação do Museu de Imagem e de Som de Sorocaba. Ministrou aulas sobre registro fotográfico de aspectos criminais para elaboração de laudos para os alunos das faculdades de Direito da USP/SP e PUC/SP, para professores da área de Odontologia Legal, da Faculdade de Odontologia da USP/SP. Realizou curso de Papiloscopia e Fotografia para Sargentos da Polícia Militar. Foi também encarregado do Museu de Criminalística da Academia de Polícia do Estado de São Paulo.
Completamente apaixonado por Sorocaba, mergulhou nos estudos sobre sua história, devorando os livros e jornais antigos existentes no Gabinete de Leitura Sorocabano. Aos domingos ia beber da fonte de conhecimento do padre Luís Castanho de Almeida (Aluísio de Almeida). Rogich Vieira, com seu caderninho, anotava tudo o que pesquisava e, sacrificava muitas madrugadas datilografando inúmeras fichas com os fatos históricos e suas datas.
Resultante desse esforço todo, foi colaborador dos seguintes órgãos de imprensa: Cruzeiro do Sul, no período de 1966 a 1998, onde escreveu mais de 5.000 artigos (Colunas: Um dia como hoje e Efemérides Sorocabanas); Diário de Sorocaba de 1970 a 1972; Folha de Sorocaba de 1970 a 1972; Folha de São Paulo; Notícias Populares; Gazeta de Santana e Jornal de Alumínio.
Concedeu entrevistas sobre história, fotografia, criminalística e arte para: TV Gazeta, SBT, TV Bandeirantes, Rede Record, Rede Globo, TV Comunitária de Sorocaba e nas revistas Manchete e Fotóptica.
Participou ativamente de ações culturais e benemerentes e foi sócio fundador do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba; membro titular da Academia Sorocabana de Letras — cadeira 22 — D’Abreu Medeiros; pesquisador paleográfico do Museu Histórico Sorocabano; membro do Gabinete de Leitura Sorocabano; sócio do Clube Filatélico de Sorocaba e membro da Loja Maçônica Fraternidade Acaciana de Sorocaba.
Autor de 11 livros, destacamos: “A princesa dos Tropeiros”, romance histórico baseado nas tradições tropeirísticas de Sorocaba. Deixou um arquivo fabuloso, resultado de mais de 30 anos de pesquisa, que está atualmente guardado na Biblioteca Infantil de Sorocaba.
Inteligente, culto e possuidor de uma memória privilegiada, transmitia com brilhantismo tudo o que sabia. Em suas aulas, palestras e conversas, conseguia que o público se transportasse para dentro dos temas. Porphírio Rogich Vieira faleceu em 20 de dezembro de 2001, com 72 anos de idade.
Seu legado não é apenas por ter estudado profundamente a história da cidade, registrando seus fatos importantes, através da fotografia, livros, artigos, palestras e crônicas, divulgando-a, muito além das fronteiras da região. O seu grande legado, deixado para a família e aos amigos que com ele conviveram, foi o amor incondicional que nutria por esta terra, por Sorocaba.
Marcos José Rogich Vieira é advogado e sócio efetivo da Academia Sorocabana de Letras