Celso Ming
Brasil e o turismo: oportunidade perdida
O Brasil não é hoje um dos destinos preferenciais do turista global, não por estar mais distante dos grandes centros econômicos do mundo, mas por ainda não reunir as condições necessárias para isso.
No entanto, indicadores mostram uma melhora do turismo externo e interno. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, atribui esse avanço à recuperação da economia.
As estatísticas da Embratur mostram que o Brasil recebeu 5,9 milhões de turistas estrangeiros nos sete primeiros meses de 2025, um recorde histórico, cerca de 47,5% mais alto do que no mesmo período do ano passado. Boa parte desses visitantes veio de países vizinhos, como Argentina (2,5 milhões), Chile (495 mil) e Uruguai (342,5 mil). Da Europa, veio pouco mais de meio milhão de pessoas.
Com o argumento de que superam o total de visitantes em eventos como a Copa do Mundo (2014) e os Jogos Olímpicos (2016), o governo Lula ostenta esses números como gols de sua administração. Mas há grandes questões não resolvidas.
Uma delas é demonstrada pela crise de hospedagem da COP-30, em novembro, que corre o risco de esvaziamento por falta de planejamento e de consciência para enfrentar problemas. Apenas 31% dos 198 países esperados para o evento confirmaram presença, porque a disparada dos preços cobrados por estadia em Belém inviabilizou a participação de delegações até mesmo de países ricos.
Outro grande obstáculo ao desenvolvimento do turismo externo no Brasil é a falta de segurança pública. O Ranking de Competitividade dos Estados e Municípios, divulgado na semana passada, revelou que grande parte do País fracassa em políticas para o setor. Esse cenário ruim não afasta apenas turistas. Afasta, também, estudantes, congressistas, investidores e profissionais qualificados de qualquer setor.
Um dos fatores que poderia servir como grande oportunidade para desenvolver o turismo externo no Brasil é a impressionante rejeição a turistas em diversas cidades do mundo. Consequência do overturism, que aumenta os aluguéis das residências, cria filas gigantescas nos pontos mais procurados, torna as ruas intransitáveis — sem falar nos impactos ambientais.
Em Barcelona, cartazes espalhados pela cidade declaram que turistas não são bem-vindos. Em Veneza, manifestantes chegaram a ocupar apartamentos locados pelo Airbnb para denunciar como a especulação imobiliária elevou o custo de vida e expulsou moradores das áreas centrais. Em Paris, Roma ou Atenas, já não se consegue andar pelas ruas na alta temporada.
O Brasil poderia se beneficiar desse potencial deslocamento de fluxos turísticos e usufruir de excelente fonte de renda. Mas, sem planejamento e sem ações concretas, corre o risco de transformar oportunidades em armadilhas e, assim, reproduzir os mesmos erros que hoje comprometem alguns dos maiores destinos do mundo. (com Pablo Santana)
Celso Ming é comentarista de economia.