Editorial
Sentimento de frustração
As pesquisas de intenções de voto e da popularidade de uma determinada figura política evidenciam uma realidade que vai além dos números: o Brasil não é um só. Há múltiplos “Brasis”, com prioridades, necessidades e percepções políticas distintas, que se encontram apenas no momento de depositar o voto na urna.
Enquanto em grandes centros urbanos o debate gira em torno de pautas econômicas, reformas tributárias e geração de empregos, no interior profundo a preocupação ainda é básica: saúde, transporte e acesso a serviços essenciais. Essa fragmentação socioeconômica e cultural explica por que um mesmo candidato pode ser adorado em uma região e rejeitado em outra, mesmo dentro do mesmo Estado.
As pesquisas captam essas diferenças, mas raramente conseguem traduzir a complexidade do País. Elas mostram intenções de voto, mas não revelam por que milhões de brasileiros ainda desconfiam da política, sentem-se esquecidos pelo poder público e enxergam nas eleições apenas uma chance de mudar o mínimo possível.
Aqui cabe um recorte. Apesar da enorme diferença que há entre os Estados brasileiros e suas respectivas necessidades, há uma concordância nacional. Ninguém gosta de político desonesto, que gosta de esbanjar dinheiro público e de uma maracutaia aqui e outra ali para ir somando “sobras” em forma de dinheiro.
Nenhum brasileiro fora da política admite corrupção ou será que há gente que tolera? Geralmente, quando dinheiro público é usado para “outras” finalidades, falta para o que realmente é necessário!
Opinar sobre o cenário é reconhecer que o Brasil não cabe em um único gráfico. Há um País que pede modernização tecnológica e outro que ainda luta por saneamento básico. Um que discute mudanças climáticas e outro que sofre com a falta de água. São mundos que coexistem, mas que votam de forma diferente e que desafiam partidos e candidatos a apresentar propostas capazes de dialogar com essa pluralidade.
No fim, as pesquisas eleitorais são um retrato parcial de um momento e o atual indica que o Brasil não vai bem, como alguns querem afirmar o contrário. Tá aí a taxa básica de juros a 15% ao ano para provar que a inflação não está controlada. As lutas do Brasil não podem ser ideológicas. Perde-se muito com esse tipo de discussão. Ao que parece, o povo se cansou de retórica, de discursinho, de balela, de mentira.
Pesquisa AtlasIntel/Bloomberg divulgada na quinta-feira (28) mostra que a aprovação do presidente Lula (PT) voltou a recuar. O petista apresentou queda de 2,3 pontos porcentuais, passando de 50,2% para 47,9%. Foram entrevistadas 6.238 pessoas de 16 anos ou mais entre os dias 20 e 25 de agosto de maneira aleatória e on-line. A margem de erro é de um ponto porcentual e o nível de confiança é de 95%
Pela mostra, a desaprovação de Lula ficou em 51,0%. A reprovação é mais acentuada entre evangélicos (70,6%), pessoas de 25 a 34 anos (66%), moradores da região Sul (61,2%), aqueles com renda familiar entre R$ 2 mil e R$ 3 mil (60,2%), quem concluiu apenas o ensino médio (58,1%) e, por fim, entre os homens (56,6%).
As avaliações negativas do governo Lula (soma de ruim e péssimo) subiram três pontos porcentuais em relação ao fim do mês passado, alcançando 51,2%. No mesmo período, a parcela que classifica a gestão como ótima ou boa caiu na mesma proporção, para 43,7%, enquanto as avaliações regulares permaneceram estáveis em 5,1%. O resultado indica um esgotamento do movimento de aproximação observado desde junho, quando as duas curvas vinham se aproximando.
Os maiores erros apontados pelos entrevistados são a taxação de compras de até US$ 50 em sites do exterior (60%), a tentativa de fiscalizar transações via Pix acima de R$ 5 mil por mês (55%) e o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), citado por 50%.
Apesar de toda essa revelação, há quem não acredite em pesquisas e até mesmo despreze as informações que elas trazem. As mais recentes pesquisas voltam a colocar no centro do debate político brasileiro a questão da representatividade e da confiança pública na instituição “Presidência da República”, revelando um sentimento de frustração em relação às promessas de campanha.