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Marcelo Augusto Paiva Pereira

Urbanidade

15 de Agosto de 2025 às 22:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: FREEPIK)

A urbanidade admite entendimentos que retiram a unicidade e a tornam difusa. Num exame mais acentuado, pode tratar do indivíduo e da cidade, num enlace entre um e outro com efeitos recíprocos. Abaixo seguem alguns comentários.

À luz do exame lexográfico, urbanidade é um substantivo feminino que atribui a qualidade de ser urbano a quem habite a cidade. Significa ser cortês, ter boas maneiras e tratar respeitosamente as pessoas ao redor, traz a ideia de convívio em harmonia e sem conflitos.

A referida, entretanto, extrapola a pessoa e atinge a cidade, que se submete à maior ou menor urbanidade, conforme os atributos de cada espaço urbano sejam aferidos pelos parâmetros da pluralidade, quantificação, qualificação urbana e segurança.

Em relação à pluralidade, o espaço urbano deverá garantir o convívio entre as diversas classes sociais, étnicas, etárias, econômicas e culturais. Numa mesma cidade muitas pessoas a coabitam e convivem diariamente nos afazeres, em relações efêmeras ou duradouras, cada qual com características e perspectivas próprias.

Além das relações plurais, também há de considerar a pluralidade do uso do espaço urbano, que deve integrar os diversos usos dos espaços entre o exterior (uso público) e o interior (uso privado) das edificações, de modo a dinamizá-los, inclusive com várias tipologias, e evitar a deterioração das áreas públicas e de uso público.

Em relação à quantificação, o adensamento e a compactação urbana caminham juntos, dos quais o primeiro concentra mais pessoas por metro quadrado e a segunda diminui a extensão territorial (horizontal) das cidades, com aumento vertical dos edifícios, do contato e comunicação interpessoal, redução dos veículos circulantes, do tempo de locomoção, da emissão de gases poluentes, além de outros efeitos.

Em relação à qualificação urbana, os espaços urbanos influenciam a urbanidade das pessoas na medida do maior ou menor oferecimento de conforto (bem-estar) aos habitantes. Lugares de pouca iluminação natural e artificial, sombrios ou deteriorados criam temor e propiciam a conflituosidade, enquanto ambientes bem iluminados, ventilados ou conservados favorecem o convívio harmônico entre aqueles.

Em relação à segurança, os projetos arquitetônicos e urbanísticos não bastam, mesmo que também sejam (ou tenham sido) planejados em prol da segurança pública. Além deles, é necessária a atuação dos poderes públicos em garantir a segurança dos habitantes, fundamentados nas atribuições legais.

Conclusivamente, a urbanidade resulta do convívio harmônico e seguro entre os habitantes e entre estes e a malha urbana, num conjunto de relações interpessoais e nos diversos espaços públicos e outros, de uso público. Depende, porém, da aferição pelos parâmetros da pluralidade, quantificação, qualificação urbana e segurança, sem os quais a urbanidade se esvai e dá espaço à conflituosidade. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.