Mirian Zacareli
A era da Inteligência Artificial: Responsabilidades, oportunidades e o papel humano
Vivemos um dos momentos mais significativos da história recente: a consolidação da transformação digital em praticamente todas as áreas da sociedade. No centro desse movimento está a Inteligência Artificial (IA), uma força disruptiva que já impacta nossas vidas e continuará a moldar o futuro de forma profunda e irreversível.
Como sócia efetiva da Academia Sorocabana de Letras, não posso deixar de refletir sobre o papel da linguagem, do conhecimento e da responsabilidade humana nesta nova era. A IA é treinada com base nas informações que nós, seres humanos, fornecemos. E, nesse ponto, reside uma das maiores responsabilidades de nossa geração: compreender com profundidade essa tecnologia e utilizar com discernimento os meios pelos quais interagimos com ela.
Ao solicitarmos respostas a uma IA, estamos não apenas buscando informação, mas também ajudando a alimentar sistemas que se aperfeiçoarão com o tempo. Isso exige que os usuários estejam cada vez mais preparados, conscientes e éticos ao utilizar essas ferramentas. O modo como formulamos perguntas, como refinamos os dados e como interpretamos os resultados impactará diretamente a qualidade do que será gerado no futuro.
A contribuição da IA na área da saúde é um dos exemplos mais promissores dessa revolução. Imagine um sistema capaz de compactar anos de histórico clínico de um paciente, cruzar dados com milhares de casos similares e fornecer ao médico uma análise precisa que possa auxiliar no diagnóstico e na escolha do melhor tratamento. Isso não significa substituir o profissional de saúde, mas sim potencializar sua capacidade de decisão com base em dados confiáveis e em tempo real.
No mundo corporativo, os executivos também já percebem os benefícios dessa transformação. A análise de grandes volumes de dados com auxílio da IA permite insights mais precisos, antecipação de tendências e definição de estratégias baseadas em cenários concretos. Os planos de negócios ganham robustez, e as decisões passam a ser menos intuitivas e mais fundamentadas.
Entretanto, para que tudo isso se concretize de forma responsável e eficaz, é preciso mudar a forma como encaramos o papel humano nesse processo. Os trabalhos repetitivos, que exigem pouco raciocínio criativo, devem ser transferidos para soluções tecnológicas. Isso libera o capital humano para atividades de maior valor agregado, como interpretação de dados, construção de cenários, tomada de decisões estratégicas e, acima de tudo, inovação.
O avanço da transformação digital também impõe novos desafios aos gestores públicos. É inegável que o setor público precisa acelerar sua modernização tecnológica. Implantar sistemas inteligentes, adotar modelos preditivos, investir em automação de processos e construir um Plano Diretor de Tecnologia da Informação sólido são passos fundamentais para que o cidadão possa usufruir de serviços digitais mais ágeis, eficientes e inclusivos.
É imprescindível que prefeitos, secretários e dirigentes públicos compreendam que a transformação digital não é uma opção, mas uma necessidade urgente. Governar bem, hoje, também significa pensar digitalmente: facilitar o acesso a informações, integrar dados entre setores, prever demandas e garantir que a experiência do cidadão com o Estado seja fluida, transparente e eficiente.
Diante desse cenário, uma pergunta se impõe: estamos nos preparando adequadamente para viver essa nova era? A resposta ainda está em construção. O que sabemos é que o caminho passa pela educação digital em todos os níveis, pela atualização constante dos profissionais e pelo desenvolvimento de uma cultura organizacional voltada à inovação.
Mais do que nunca, precisamos desenvolver uma consciência crítica sobre como utilizamos a tecnologia. A IA é uma ferramenta poderosíssima, mas não neutra. Ela reflete os valores, os dados e os contextos com os quais é alimentada. Por isso, é essencial que os profissionais das mais diversas áreas dominem os fundamentos dessa nova linguagem e saibam utilizá-la de forma ética, estratégica e responsável.
A inovação não é apenas um processo técnico. É, acima de tudo, um processo cultural. A sociedade que souber unir conhecimento, ética e tecnologia será aquela que conseguirá construir um futuro mais justo, eficiente e sustentável. E cabe a todos nós, cidadãos, profissionais, gestores, escritores, contribuirmos para isso.
Mirian Zacareli é sócia efetiva da Academia Sorocabana de Letras; consultora em Inovação Estratégica para Cidades, Negócios e Governos; presidente do Conselho do Ecossistema da Região Administrativa de Sorocaba no Movimento Brasil Digital para Todos.