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Marcelo Augusto Paiva Pereira

Os Ciams e seus efeitos

28 de Junho de 2025 às 20:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: REPRODUÇÃO)

No século 20 ocorreram os Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (Ciams), dos quais o primeiro foi em 1928 e o último em 1959. Os cinco primeiros antecederam à Segunda Guerra Mundial e posteriormente os demais. Tiveram influência do foco europeu de ver o mundo e trataram de questões arquitetônicas e urbanísticas. Abaixo seguem alguns comentários.

As consequências da Grande Guerra (1914-18) modificaram o panorama geopolítico da Europa com impérios extintos, territórios (re)tomados por outros países e severas punições atribuídas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes (1919), considerada responsável pela guerra.

A década de 20 foi penosa aos alemães que, em 1923, foram atingidos pela maior inflação do mundo (daquela época), desemprego geral e perda do poder aquisitivo. Sob este espectro ocorreu, em 1928, o primeiro Ciam em La Sarraz (Suíça), sob domínio da corrente doutrinária alemã, que definiu a racionalização, padronização e a escala da arquitetura, inclusive em relação ao urbanismo.

Àquele congresso, as cidades deveriam ter quatro funções (habitação, lazer, recreação e trabalho) e a produção delas seria a produção das habitações, inclusive à classe operária, para que se beneficiasse de ar, luz e sol mediante o padrão internacional mínimo de espaço (definido por 8 metros quadrados/pessoa, no Ciam de 1929, pelo movimento político Viena Vermelha).

Do 4º (1933) ao 7º (1949) Ciam foi abordado o urbanismo, que deveria ser totalmente planificado, sem considerar hidrografia, sítios históricos urbanos e topografia. Apresentaram soluções padronizadas para qualquer cidade em qualquer lugar do mundo (cidades universais) e queriam criar o homem cosmopolita (universal).

A Segunda Guerra Mundial (1939-45) causou mais estragos à Europa do que a anterior e modificou o panorama doutrinário do urbanismo. Era necessário reconstruir as cidades e várias escolheram o modelo modernista, com novos desenhos, enquanto outras resgataram o passado e as reconstruíram como eram antes dos bombardeios (é exemplo Frankfurt am Main).

Além dessas, outras retomaram o conceito de “cluster” (criado na década de 20), unidade urbana que preserva a identidade, o padrão cultural e antropológico do grupo social e do lugar em que se encontra. Do 8º (1951) ao 10º (1956) Ciam trataram da vida urbana e o último (1959) questionou as funções das cidades.

Conclusivamente, o modernismo modificou a arquitetura e o urbanismo desde o início do século 20 com novas ideias, das quais as quatro funções da cidade, a racionalização, padronização e escala da arquitetura e do urbanismo, o padrão mínimo de espaço e o conceito de “cluster”, surtem efeitos até a presente época, ainda que questionadas e atualizadas pela ciência, conhecimento e tecnologia da atualidade. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.