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Marcelo Augusto Paiva Pereira

Lugares de memória

20 de Junho de 2025 às 21:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: REPRODUÇÃO)

Lugares de memória são o nome da obra escrita pelo historiador francês Pierre Nora (1931-2025), na qual ele distingue história e memória, que se correlacionam nesses lugares. Estes importam para compreender as sociedades, suas identidades, como cuidam do passado e se projetam ao futuro. Seguem abaixo alguns comentários.

Lugares de memória são bens materiais e imateriais que trazem à tona e preservam a identidade de um grupo social e a memória coletiva a este pertencente. Os bens materiais são os lugares, artificiais e naturais, e objetos, enquanto os imateriais são os conceitos. São exemplos os espaços urbanos, monumentos e sítios históricos, edifícios públicos, paisagens e parques naturais, datas comemorativas e tradições (bumba meu boi, por exemplo).

Àquele historiador, tais lugares são espaços materiais, funcionais e simbólicos, em que a memória coletiva se preserva e se manifesta. São materiais porque pertencem ao mundo real, dos fatos; funcionais porque preservam e transmitem a memória coletiva; e simbólicos porque estão investidos de significados à sociedade.

Nesses, a memória do grupo social encontra refúgio, consolida-se e se torna visível, apta a conectar o passado com o presente e ao (re)conhecimento, pelas pessoas, da história, identidade e valores preservados. A memória, individual ou coletiva, influencia a cultura, história, linguagem, política e perfaz a identidade de um espaço urbano.

Na arquitetura e urbanismo os lugares de memória adquirem maior representatividade da história por serem fundamentais à compreensão de onde viemos e para onde queremos ou poderemos ir. O dinamismo das transformações pelo tempo, quando faz desaparecer espaços urbanos e obras arquitetônicas para dar azo a novas tipologias, conspira contra a identidade da sociedade, consolidada nos espaços e obras que deixaram de existir.

Ocorre a ressignificação dos espaços urbanos em prol do crescimento das cidades, sem considerar os lugares em que a memória coletiva estava preservada e apta a surtir efeitos ao conhecimento (e à memória) das pessoas do presente. A memória é uma função psicológica envolvida com a responsabilidade histórica, e a ressignificação deve recair sobre cada lugar de memória (espaços urbanos ou edifícios) a dar novo sentido à sua importância, mas sem eliminá-lo ou arruiná-lo.

Conclusivamente, na arquitetura e urbanismo os lugares de memória são os espaços urbanos ou edifícios que preservam a memória coletiva da sociedade, desta resgatam o passado e o preservam para consolidar a identidade, na razão da história e na medida de cada um deles. Devem ser protegidos contra as novas tipologias do crescimento urbano, porque através daqueles lugares compreendemos de onde viemos e para onde queremos ou poderemos ir. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista