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Renato de Oliveira Camargo Junior

Desmascarando a Síndrome do Bonzinho

07 de Junho de 2025 às 19:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: .)

No início deste século, a psicóloga norte-americana Harriet Breiker sentiu-se intrigada com um perfil de comportamento social, caracterizado pelo hábito de agradar todo mundo. Embora louvável, na opinião de alguns, esse perfil sempre causou estranheza a outros, por não parecer muito verdadeiro e sustentável. A eles, chamou de portadores da “Síndrome do Bonzinho” ou portadoras da “Síndrome da Boazinha”.

Os bonzinhos revelam uma passividade exacerbada na interação social, tendendo sempre a ceder às vontades de parceiros, familiares, amigos e colegas de trabalho. E embora isso possa lhes parecer bom, gera uma série de prejuízos pessoais, tais como a diminuição da autoestima, o comprometimento do amor-próprio, a interferência na comunicação, a contração da sensatez e a desestruturação do equilíbrio.

A compulsão por agradar é uma condição que atinge homens e mulheres, mas é mais comum no segundo grupo, devido ao nosso modelo educativo machista, que sugere que apenas elas nasceram para servir. Esse modelo diabólico tem feito das mulheres escravas dos seus maridos, rejeitadas em suas necessidades, oprimidas em suas opiniões e confinadas ao mais absoluto silêncio.

A cura para o hábito de agradar os outros não consiste em deixar de agradá-los, como alguns possam imaginar. Este passo, embora suficiente para nos livrar do cárcere da passividade, nos levaria, imediatamente para um outro cárcere: o cárcere da vida egoísta e autocentrada. A solução para esta questão demandará de nós uma reflexão muito mais profunda e refinada, que não se encontra em nenhum dos polos ideológicos contemporâneos.

Dentre as principais causas do hábito agradador, podemos destacar o medo da rejeição (presente no cérebro humano, desde os nossos ancestrais); a insegurança emocional (derivada de uma criação legalista, baseada no toma lá, dá cá) e a lógica da compensação (que leva algumas dessas pessoas a externalizar uma bondade que compense algum traço perverso da sua personalidade). Talvez, por isso, eu tenha tanto medo desse tipo de gente!

À essa “altura do campeonato” quase que consigo ouvir as vozes daqueles que gostariam de entrar neste artigo para defender os bonzinhos. Afinal de contas, alguns deles afirmam a plenos pulmões que vivem dessa forma, porque são seguidores de Jesus. Será? Teria sido Jesus o primeiro dos bonzinhos a entrar neste mundo, disposto a viver uma vida que nunca tensionava e nem questionava ninguém? Na perspectiva bíblica, não!

Em primeiro lugar, o Jesus dos Evangelhos era alguém que fazia o que tinha que fazer, sem a preocupação de frustrar as expectativas infundadas dos outros. Nós aprendemos isto em Marcos 1:36-38, quando Jesus é procurado pelos discípulos, informando-lhe de que “todos” o estavam procurando. Jesus respondeu: “Vamos para outro lugar, para os povoados vizinhos, para que também lá eu pregue.”

Em segundo lugar, o Jesus dos Evangelhos era alguém que ensinava o que tinha que ensinar, ainda que isto lhe custasse alguns seguidores. Nós aprendemos isto em João 6:53, quando disse a alguns que o seguiam de longe: “Se vocês não comerem a carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em si mesmos.” Imediatamente, alguns desses discípulos disseram: dura é essa Palavra. E deixaram de segui-lo.

Em terceiro lugar, o Jesus dos Evangelhos era alguém que exortava quem precisa exortar, acumulando inimigos. Nós aprendemos isto em Mateus 23:27, em que teceu críticas severas a alguns religiosos, dizendo: “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície.”

Resumindo, Jesus não sofria da Síndrome do Bonzinho. Ele não moldava as suas palavras, suas atitudes e ações para agradar aqueles que estavam ao seu redor. E, por que ele não fazia isto? Porque descobriu que a sua comida e a sua bebida era fazer a vontade daquele que o enviou (Mateus 4:34). Quem descobre este segredo, não troca a passividade social pela vida autocentrada. Antes, dedica todos os seus dias para agradar a Deus e fazer sua vontade.

Renato de Oliveira Camargo Junior é teólogo formado pelo Seminário Presbiteriano do Sul, pós-graduado em Liderança pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Doutor em Ministério pelo Missional Training Center, professor de Homilética e Prática da Pregação no Seminário Presbiteriano do Sul e Pastor Plantador da Comunidade Presbiteriana Campolim, em Sorocaba.