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Renato de Oliveira Camargo Junior

Piratas, vampiros e zumbis: Sobre o desafio de lidar com pessoas difíceis

09 de Maio de 2025 às 21:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: FREEPIK)

Antes que você me entenda mal, eu preciso deixar claro uma coisa: este não é um artigo sobre terror. Para falar a verdade, eu nunca gostei muito de livros ou filmes desse gênero. Talvez, porque as minhas primeiras experiências com esse tipo de conteúdo tenham acontecido quando eu ainda era muito pequeno.

Como meu pai trabalhava fora da cidade e demorava muito para chegar em casa após o expediente, minha mãe aproveitava essas oportunidades para assistir com os filhos os filmes que ela mais gostava: os “filmes de dar medo”. Assim que a noite chegava, ela fritava uns mandiopans e, imediatamente, colocava a gente para curtir.

Os filmes daquela época eram horríveis. Os efeitos especiais não tinham nada de especiais — tudo era muito tosco. Mas, como estávamos em família, debaixo do mesmo cobertor, tudo era uma grande festa. Bom, pelo menos até que alguns personagens do filme viravam vampiros. A partir daí, nossos colchões sofriam horrores.

Se as pessoas amedrontadoras existissem apenas nos filmes de terror, problema resolvido. Bastaria desligarmos a televisão, para curtirmos somente aquelas que são legais. Mas a vida real não é assim. Nela, estão presentes tanto aqueles que nos fazem bem, como aqueles que nos geram prejuízos, desgastes e, até mesmo, calafrios.

As pessoas difíceis estão em todos os lugares. Elas estão no trabalho, procurando uma maneira de puxar o nosso tapete. No clube, fazendo comentários maldosos sobre o tipo de roupa que usamos. Na vizinhança, brigando para que as coisas funcionem do jeito delas. E, até mesmo, dentro de casa.

A mentalidade das “pessoas difíceis” é bastante característica. Normalmente, é enviesada por um trauma, por uma demanda, por um sofrimento ou, até mesmo, por um traço de personalidade incorrigível. E, a partir daí, lidam com o outro sem a devida sensibilidade e empatia.

Didaticamente, podemos dividir as pessoas difíceis, em três grupos. O primeiro é o dos piratas. Eles tendem a se aproximar de nós para subtrair aquilo que temos. Eles querem os nossos recursos, os nossos bens, as nossas influências, as nossas posições e, assim, por diante.

O segundo grupo é o dos vampiros. Eles vivem ao nosso redor com o objetivo de sugarem as nossas energias e drenarem a nossa vitalidade. Perto deles, nos sentimos profundamente exaustos, pois demandam sem limites da nossa presença, da nossa atenção e da nossa dedicação.

O terceiro grupo é o dos zumbis. Diferentemente dos dois grupos anteriores, os zumbis não querem necessariamente o que a gente tem. Nem os nossos bens, nem a nossa vitalidade. Contudo, possuem um prazer sádico em nos aterrorizar — assim como um menino queima uma pequena formiga, intensificando o calor do sol com uma lupa.

Se essas pessoas estão por aí, precisamos descobrir uma maneira de lidar com elas. Para isto, creio que a leitura bíblica de 1º Samuel 23 e 24 é bastante elucidadora, pois trata-se do desafio de Davi, de lidar com o rei Saul — um homem mal, atormentado por um espírito maligno.

A primeira orientação contida no texto é: abandone suas ilusões. Isto é fundamental, porque, enquanto romantizamos nossos relacionamentos, menosprezamos o potencial destrutivo que possuem. É aí que somos pegos de surpresa.

A segunda orientação é: evite o confronto direto. Esse tipo de abordagem deve ser rejeitada, pois pessoas complicadas não tem limites razoáveis. Não suba no ringue com elas.

A terceira orientação é: conte com a providência de Deus. Isso se faz necessário, pois Ele sabe muito bem dos recursos que precisamos e nos oferece cada um deles, graciosamente.

A quarta orientação é: abra mão do revide. Segundo Philip Yancey, escritor norte-americano, o revide não sacia o desejo de justiça, apenas alimenta o ciclo infindável da não graça.

A quinta orientação é: se necessário, deixe partir. Em alguns casos, essa providência é a única que basta, pois não podemos colocar em jogo a nossa integridade física e emocional. Quem não cuida de si mesmo, não é capaz de cuidar dos outros.

Que, ao longo da nossa vida, Deus nos dê clareza para identificar as pessoas difíceis e sabedoria para lidarmos com elas, de maneira a preservarmos a saúde e a paz ao nosso redor.

Renato de Oliveira Camargo Junior é teólogo formado pelo Seminário Presbiteriano do Sul e pela  Universidade Presbiteriana Mackenzie, pós-graduado em Liderança pela Universidade Presbiteriana  Mackenzie, doutor em Ministério pelo Missional Training Center, professor de Homilética e Prática da Pregação no Seminário Presbiteriano do Sul e pastor plantador da Comunidade Presbiteriana Campolim, em Sorocaba.