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Marcelo Augusto Paiva Pereira

A forma segue a função

18 de Fevereiro de 2025 às 21:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: REPRODUÇÃO)

Ao final do século XIX surgiu na cidade de Chicago (Estados Unidos) o escritório de arquitetura Adler & Sullivan, de grande destaque naquele período. Louis Sullivan (1856-1924) foi precursor da arquitetura modernista ao desenvolver o entendimento de que a forma segue a função, posição artística e estética que influenciou aquela corrente arquitetônica.

Sullivan é lembrado por ser o “pai dos arranha-céus” de Chicago, edifícios construídos com aço e revestidos de alvenaria ornamentada. A ele, a ornamentação (preexistente à corrente modernista que emergia) deveria completar a função, exteriorizada pela verticalidade desses edifícios, justificada pelo aforismo “a forma segue a função”, atribuído por ele ao arquiteto romano Marcus Vitruvius (80 a 15 a.C.).

Várias foram as obras de Sullivan, das quais são exemplos o Auditorium Building (Chicago, 1889, que ilustra esse artigo); Carson, Pirie, Scott and Company Building (Chicago, 1899); Guaranty Building (Nova York, 1896); Wainwright Building (St. Louis, 1891), além de outros. Projetou a Charnley-Persky House (Chicago, 1892) junto de seu aprendiz (ou estagiário) Frank Lloyd Wright (1867-1959), o qual acolheu o conceito vitruviano desenvolvido por seu mestre. Diferentemente dele, todavia, seguiu estilo arquitetônico próprio, denominado “Prairie” e realizado no meio-oeste americano, abraçado à arquitetura modernista.

Aquele aforismo repercutiu na órbita do modernismo e outros arquitetos o acolheram, como o arquiteto franco-suíço Le Corbusier (1887-1965), Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969) e a escola de artes e ofícios da Bauhaus (Alemanha, 1919-33). Nesta seara serviu de suporte ao desenvolvimento do funcionalismo, dos cinco pontos (ou princípios) do modernismo (criados por Le Corbusier) e de vários ramos da arquitetura, dos quais a minimalista foi uma delas.

O conceito de estética abandonou a ornamentação e se limitou à funcionalidade dos edifícios, dos espaços e dos objetos, num desenho sem exageros ou ornamentos incluídos ao projeto final. São exemplos a expressão “máquina de morar” (em relação à função da habitação) e a Unidade Habitacional de Marselha (França, 1952), de Le Corbusier.

Conclusivamente, Sullivan foi protomodernista, antecedeu ao modernismo na arquitetura e projetou seus edifícios sem perder de vista a aplicação do aforismo “a forma segue a função” e o resultado almejado, ainda que utilizasse ornamentos. O referido não é uma corrente arquitetônica; ao contrário, é um norte, um princípio que orienta os arquitetos a projetar obras funcionais, em que o uso destas seja destacado e determinante do desenho final do projeto. À luz do próprio aforismo, a forma é acessória da função e a esta se submete. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.