João Alvarenga
Carcaça (parte 1)

Você conhece bem seu corpo? Sabe como os órgãos internos estão distribuídos? Como eles funcionam? E, quando uma dor aparece, repentinamente, tem a exata noção de como tratá-la? Com esses questionamentos, nos distanciaremos um pouco, neste domingo, da aura mística que permeou os dois últimos artigos, em que a preocupação com o espírito dominou a discussão. Hoje, nossa intenção é tratar da matéria. Mais especificamente esmiuçar as estruturas dessa maravilhosa máquina chamada “corpo humano”. Na verdade, a única evidência palpável de que realmente estamos vivos; afinal, durante as 24 horas do dia, toda nossa interação com o mundo físico acontece através dos nossos sentidos.
Assim, mais do que destacar os perigos que rondam essa fantástica ferramenta, repleta de inúmeros recursos que nos ajudam a sentir a vida pulsando nas veias, essa abordagem focará uma preocupação que, geralmente, passa despercebida pela maioria das pessoas. Aliás, nem mesmo a mídia ou governo dão real atenção para uma questão tão delicada. Estamos nos referindo ao fato de que uma grande parcela da população só se dá conta de que determinada “peça” desse maquinário existe, quando ela apresenta defeito de “fabricação” ou deixa de funcionar.
Nessa hora, os afortunados acionam o plano de saúde, para combater o mal pela raiz. No entanto, a massa assalariada aguarda, na fila do SUS, por um diagnóstico que, dependendo do caso, pode levar meses. Às vezes, a doença já está em estado avançado ou o órgão completamente comprometido. Tanto que a maioria recorre ao uso das “plantas medicinais” que nascem nos quintais. Talvez, o tratamento paliativo possa até funcionar ou mascarar um mal maior. Mas, se a moléstia for grave, o ideal é que o enfermo procure um bom especialista, para que atue na causa e não só no efeito do problema.
Porém, fazendo uma analogia, nosso corpo pode ser comparado a um carro. Ou seja, se não fizermos revisões periódicas das partes mais sensíveis do veículo, corremos o risco de ficar a pé no meio do caminho. Já que, do nada, pode haver uma pane geral. Dependendo do estrago, o reparo pode ser custoso. O corpo humano também está sujeito a imprevistos; por isso, existe o famoso “check-up”: uma bateria de exames de caráter preventivo. Afinal, como diziam os antigos, “é melhor prevenir do que remediar!”
No entanto, quando somos crianças, por falta de orientação dos pais e, também, dos educadores, achamos que nosso corpo não passa de uma mera carcaça sustentada por ossos e pele. Assim, simplesmente, ignoramos os órgãos internos e suas reais funções. Nem sabemos onde estão localizados. Aliás, muita gente chega à velhice com essa dúvida.
No auge da nossa juventude, fazemos de nosso corpo um “laboratório”, com experiências perigosas, pois comemos e bebemos de tudo, sem se importar se isso vai comprometer nosso organismo. Assim, rins, fígado e pâncreas são massacrados por alimentos industrializados. Na idade adulta, desprezamos os alertas da OMS: açúcar, sal, cigarro e álcool, em excesso, não passam de “veneno”. Lamentavelmente, é só na velhice que descobrimos que o “peixe morre pela boca”.
Se a sociedade ouvisse os conselhos enfáticos dos cardiologistas sobre a fragilidade do sistema vascular, talvez, houvesse menos infartos e AVCs. Afinal, as artérias são canais que transportam o sangue, da tampa da cabeça à planta dos pés, passando pelos demais órgãos, especialmente o coração, que o bombeia. Logo, o consumo excessivo de alimentos ricos em gordura saturada representa sério risco à saúde.
Imagine que esse sistema seja uma avenida com um trânsito intenso e que, de repente, ocorre um grave acidente. A pista fica parada. Quando uma artéria está com altas taxas de LDL, o famoso “colesterol ruim”, o fluxo sanguíneo poderá ser interrompido, podendo haver inúmeras consequências negativas ao organismo. Na semana que vem, avançaremos nesse assunto.
Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação.