Marcelo Augusto Paiva Pereira
Menos é mais

O aforismo “menos é mais”, atribuído ao arquiteto Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969), um dos pioneiros da arquitetura modernista junto a Walter Gropius e Le Corbusier, serviu para difundir o conceito de arquitetura minimalista, ainda que o minimalismo tenha surgido antes da referida corrente arquitetônica.
O conceito do aludido aforismo remonta aos gregos antigos, dos quais Quílon de Esparta (600 a 520 a.C.), filósofo, poeta, escritor e político teria dito, entre tantas máximas, que os filósofos são breves nas palavras (laconismo).
Da Idade Antiga à Contemporânea, “menos é mais” também passou a influenciar a arte, arquitetura, música, moda e o estilo de vida de muitas pessoas. No século XX serviu para justificar a expansão da arquitetura minimalista, fundada em conceitos extraídos do movimento artístico “De Stijl” (Holanda 1917-31) e da escola de artes e ofícios da Bauhaus (Alemanha 1919-33) e justificada pelos efeitos devastadores da então Grande Guerra (1914-18).
Cores primárias, funcionalismo, formas geométricas e reduzidas, inovação de materiais, planos retilíneos e purismo compuseram os fundamentos da arquitetura minimalista. A essência ou núcleo é a ausência de ornamentos, adornos e tudo o quanto possa extrapolar o mínimo a ser dado à clareza do projeto (estética limpa, funcionalidade e simplicidade).
Várias obras foram construídas, das quais se destacam a casa Rietveld Schröder em Utrecht (Holanda 1924), de Gerrit Rietveld, representativa do movimento “De Stijl”, o Pavilhão Alemão na Exposição de Barcelona (Espanha 1929), Casa Farnsworth (Estados Unidos 1951), Seagram Building (Estados Unidos 1958) e Neue National Gallery (Alemanha 1968, foto), de Ludwig Mies van der Rohe, representativas da arquitetura minimalista.
Sob a óptica da arquitetura, o minimalismo também deve examinar as relações entre espaços cheios e vazios, mensurar a aplicação de luz natural e artificial e equilibrá-los, num jogo de sombra e luz entre aqueles espaços, desenhados para atender à clareza do projeto do edifício.
Sob a óptica do urbanismo, referida arquitetura tem o escopo de reduzir a poluição visual dos edifícios e grandes obras e apresentar um ambiente urbano limpo, enxuto, sem excessos que contaminem a visão e a concentração das pessoas.
A aplicação do aforismo tem atingido outras áreas, inclusive em relação à sustentabilidade e ao ecodesign (em benefício da preservação do meio ambiente natural), como também aos ideais de clareza na comunicação, eficiência e adoção do essencial na vida diária.
Conclusivamente, o aforismo “menos é mais”, de Mies van der Rohe, extrapolou o espaço de atuação da arquitetura e do urbanismo, atingiu outras áreas do conhecimento e atualmente serve de justificante à defesa da sustentabilidade e ao ecodesign, sem que se perca sua essência nem seu arcabouço. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.