João Alvarenga
Desvendando a Filosofia (parte 2)
No artigo deste domingo, daremos sequência ao assunto que iniciamos, na semana passada, sobre a importância da Filosofia para construção do conhecimento, tanto científico quanto teológico. Anteriormente, demos ênfase à origem do pensamento filosófico; hoje, destacaremos o legado que alguns filósofos deixaram para a nossa evolução. Teorias que, ou permanecem no centro das discussões, ou foram a gênese de muitas descobertas científicas. Detalhe: nossa fonte de pesquisa é a obra “O Pensamento Filosófico da Antiguidade”, do filósofo e escritor brasileiro Huberto Rohden, pois traz uma abordagem ampla sobre os grandes pensadores da antiguidade.
A busca pela matéria-prima que compõem o universo é gênese da Filosofia, pois os filósofos da antiguidade clássica, com diferentes linhas de pensamentos, tinham a necessidade de entender como tudo começou. Primeiramente, os pensadores helênicos buscaram a unidade do universo no mundo externo, observando a própria natureza e sua multiplicidade. Depois, voltaram-se para o mundo interno (a mente humana), até chegarem ao conceito de “Theós universal”. Traduzindo: a causa primária de todas as coisas, a fonte de todos os fenômenos do mundo e do homem. Em outras palavras, o “Infinito” ou “Deus”. Conceito este que encontra ressonância em muitas doutrinas religiosas da atualidade.
Mas, coube ao filósofo Tales de Mileto, que viveu por volta de 600 a.C., a tarefa de romper com as divagações teológicas a respeito da existência, para inaugurar uma nova fase na linha de pensamento filosófico. Aliás, seu nome figura como o “pai” da Filosofia ocidental. Rohden o classifica como “um dos sete sábios da Grécia”. Por quê? Pelo fato de que suas reflexões deram início ao estádio da especulação científica sobre a matéria-prima que compõe o universo. Para Rohden, é fase embrionária do que comumente chamamos de “ciência moderna”.
No entanto, os nomes de Leucipo e Demócrito (420 a.C.) são apontados como autores da “mais sutil e célebre teoria da antiguidade sobre o elemento fundamental de todas as coisas — a teoria atômica”. Embora não houvesse como comprovar tal teoria, esses filósofos afirmavam que o átomo era a única matéria indivisível do universo. Porém, Heráclito, ao cunhar a expressão “panta rhei” (tudo flui), estabelece uma simbiose entre a filosofia pré-socrática e a visão científica moderna sobre a constituição física do mundo. Rohden explica: “nessa concepção, o universo não é matéria estática, mas algo dinâmico”. Essa percepção só encontraria sentido no começo do século 20, quando os átomos puderam ser estudados, com o uso de microscópios.
Todavia, enquanto alguns filósofos se debruçavam sobre os enigmas da existência, outros buscavam estabelecer uma linha de conduta ética para o convívio em sociedade. Nesse contexto, surgem os pensadores que definem os alicerces do “estoicismo”. Tal pensamento sustenta-se em duas linhas: o “processo de apercepção” e a “lei da harmonia cósmica”. Talvez, a frase de Epicteto (ano 55 d.C.): “Não são as coisas que nos acontecem, mas a forma como as interpretamos que define nossa qualidade de vida”, elucide o pragmatismo que está no cerne do estoicismo, que propõe uma visão mais realista e menos fantasiosa da vida.
Dentre os nomes mais famosos da antiguidade, talvez, o de Pitágoras ressoe com mais ênfase, porque suas fórmulas matemáticas estão presentes na vida de muitos alunos, além de impulsionarem diversas áreas do conhecimento. No entanto, sua contribuição ultrapassa o lugar-comum, pois defendia que o ser humano nasceu para transcender. No seu entender, a busca da plenitude se dá pelo despertar do “Deus imanente” que está em cada indivíduo, mas permanece adormecido. Dizia: “Quem não harmonizou o seu próprio ser, não pode refletir a harmonia divina.” Dado ao limite de espaço, Sócrates, Platão e Aristóteles ficarão para outra ocasião.
João Alvarenga é professor de redação