Dom Julio Endi Akamine
Esperança e Maternidade
Estamos para inaugurar o Ano Jubilar “Peregrinos da Esperança” (29.12.2024) no contexto da celebração de Nossa Senhora Mãe de Deus e da Romaria de Aparecidinha (01.01.2024). Por isso é oportuna uma reflexão sobre Maria de Nazaré e a esperança cristã.
Se é um fato que a esperança da humanidade se encontra em Cristo, devemos também reconhecer que, para o seu nascimento e para o cumprimento da sua obra, foi requerida de Maria a esperança.
O anjo pediu de Maria, em primeiro lugar, a fé em vista da sua maternidade virginal. O mensageiro divino, porém, pede dela também a esperança, uma vez que anuncia o futuro messiânico da criança que irá nascer. Para colaborar com a obra da salvação, a esperança de Maria é necessária. Trata-se de uma esperança de grande fôlego e constância.
A esperança de Maria é genuinamente feminina: é a esperança da mãe que espera ansiosamente o filho. Quando sonha o futuro do filho, a mãe sempre é levada a uma esperança ilimitada, mas no caso de Maria a amplidão da sua esperança tem uma base indestrutível: é a promessa de Deus que se realizará infalivelmente: “Ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reino não terá fim” (Lc 1,33). Para Maria, o anjo propõe uma esperança que tem o tamanho da eternidade.
A esperança de Maria não é pura e simplesmente adesão a uma Promessa divina, pois pela sua maternidade, ela já possuía, de maneira misteriosa e íntima, o que desejava. Desde a concepção do Verbo, Maria era habitada pela presença divina. No seio de Maria, a salvação da humanidade deixava de ser um objetivo longínquo, para se tornar presente naquele menino que tem por nome “Deus salva” - Jesus. Com efeito, “a fé não é só uma inclinação da pessoa para realidades que hão de vir, mas estão ainda totalmente ausentes; ela dá-nos algo. Dá-nos já agora algo da realidade esperada, e esta realidade presente constitui para nós uma “prova” das coisas que ainda não se veem. Ela atrai o futuro para dentro do presente, de modo que aquele já não é o puro “ainda-não”. O fato de este futuro existir, muda o presente; o presente é tocado pela realidade futura, e assim as coisas futuras derramam-se naquelas presentes e as presentes nas futuras” (Bento XVI, Spe Salvi, 7).
Depois do nascimento de Jesus e durante o seu tempo de vida oculta em Nazaré, a esperança de Maria teve que crescer. Por sinal, o pedido de milagre nas núpcias de Caná mostra uma imensa esperança de Maria no poder divino de seu filho. Foi por isso que ela disse aos servidores: fazei tudo o que ele vos disser (Jo 2,1-11).
Neste ano jubilar de 2025, aprendamos de Maria a ter esperança em Deus e a esperar Deus. Que Nossa Senhora Aparecida faça arder ainda mais a nossa esperança em um mundo em que as pessoas saibam se respeitar e se encontrar. Que Nossa Senhora Aparecida ajude todos os cristãos a serem melhores discípulos de Jesus Cristo.
Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba.