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Dom Julio Endi Akamine

Estava na prisão e fostes me visitar (Mt. 25,36)

29 de Novembro de 2024 às 21:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: FREEPIK)

Jesus viveu pessoalmente a experiência da prisão, do julgamento e da condenação à pena de morte. Mesmo sofrendo a angústia mortal ao ponto de suar sangue e de se sentir abandonado pelo Pai, Jesus encontrou forças para prometer a um dos crucificados: “Hoje estarás comigo no paraíso”. Jesus não se envergonhou de se identificar com os encarcerados: “estava na prisão e fostes me visitar”. São Paulo nos exorta: “Recordai-vos dos encarcerados, como se fôsseis companheiros de cárcere deles” (Hb 13,3).

A importância e atualidade da Pastoral Carcerária ficam evidentes quando nos damos conta da multidão que vive hoje encarcerada.

O número de encarcerados no Brasil era de 607.700 no primeiro semestre de 2014. Em 2022, a população carcerária chegou a 832.295 pessoas. Em pouco mais de 10 anos, o Brasil passou da quarta maior população carcerária do mundo para a terceira posição. Se a população encarcerada continuar a crescer nessa velocidade, estima-se que em 2075 um em cada 10 brasileiros estará encarcerado.

Há uma preocupação cada vez maior por segurança. Infelizmente pouco nos preocupamos em oferecer ajuda aos detentos e, menos ainda, em humanizar as prisões.

O nome “penitenciária” sugere “penitência”, e é justo que seja um lugar para tal, mas a penitência está sempre associada ao perdão e à mudança de vida. Mesmo que o processo jurídico tenha seu curso, é preciso que o perdão nunca esteja ausente da imposição e do cumprimento da pena. Quando a imposição da justiça perde a sua conexão com o perdão, a sociedade corre o sério risco de viver altas taxas de vingança e de crueldade.

A visita aos encarcerados não suprime a culpa, mas pode tocar o coração de quem sofre uma justa punição. Ela ajuda o cárcere a ser menos desumano e a se tornar um lugar de mudança do coração. Na Arquidiocese de Sorocaba as visitas aos encarcerados e assistência espiritual deles são realizadas pela Pastoral Carcerária. Graças a Deus a prática cristã de visitar os encarcerados nunca se interrompeu em nossa Arquidiocese.

Por várias razões, muitos não podem e não conseguem visitar uma penitenciária. Podem, porém, usar a criatividade da misericórdia. A proximidade e a ajuda aos familiares dos encarcerados é de extraordinária eficácia e revela sublime delicadeza. Outra ação criativa é a de escrever a quem está na prisão. Dirigir-lhes palavras de conforto, de encorajamento na superação da pena, de sincera solidariedade pode ser mais eficaz do que a recriminação amarga. Há testemunhos belíssimos de pessoas que ajudaram encarcerados mantendo uma correspondência com eles.

Outra atitude cristã é aquela de rezar pelos encarcerados. Ao passar diante de uma penitenciária, podemos fazer o sinal da cruz e rezar pelos irmãos privados de liberdade. Do mesmo modo quando passamos diante de uma igreja, podemos nos lembrar de que no cárcere está presente Jesus, elevar o coração a Deus e interceder por todos os irmãos e irmãs prisioneiros.

Aproveito a oportunidade deste artigo para exprimir gratidão em nome da Igreja aos agentes da Pastoral Carcerária e do Menor. Com uma dedicação admirável, eles vão ao encontro dos que estão privados de liberdade para testemunhar que Deus e a Igreja os amam, os desejam, os aguardam. Rezemos para que os detentos se empenhem em reparar os crimes cometidos e superar os seus erros.

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba.