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Celso Ming

Bets e lavagem de dinheiro

30 de Setembro de 2024 às 22:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: FREEPIK)

Tarde demais, o presidente Lula levou um susto ao tomar conhecimento de que, somente em agosto, R$ 3 bilhões (21%) dos R$ 14 bilhões repassados para famílias do Bolsa Família foram utilizados em plataformas de aposta on-line, apenas com pagamentos via Pix. Cerca de 5 milhões de pessoas das 20 milhões de famílias apostaram com o dinheiro do programa.

Essas casas de apostas faturaram cerca de R$ 100 bilhões em 2023, dinheirama que foi desviada do consumo e dos investimentos, celebridades são contratadas por milhões de reais para fazer publicidade, camuflada por apelos ‘a apostas com responsabilidade’, eventos, times de futebol e programas de TV estampam as marcas dessas bets.

As distorções produzidas por essa modalidade de jogatina on-line vêm sendo denunciadas por analistas. Nunca será demais insistir na reivindicação de que se reveja a atual regulamentação tão perniciosa.

Esta Coluna se volta para focar outra atividade criminosa difundida por essas bets. Trata-se da lavagem de dinheiro, que produz sérias consequências sobre a vida política e sobre a arrecadação. Não há estatísticas confiáveis sobre quanto as bets concorrem para com essas práticas. Mas há fatos e há indícios suficientemente alarmantes de que vão adquirindo grandes proporções. O cantor Gusttavo Lima, proprietário de 25% de uma casa de apostas on-line, está sendo acusado de lavagem de dinheiro e de conivência com a bandidagem. Também se multiplicam informações de que organizações criminosas, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), vêm usando as bets para lavar dinheiro do tráfico e financiar suas atividades.

Essas atividades a gente já sabe quais são. Além de espalhar o tráfico de drogas, dedicam-se ao aliciamento de políticos, a ‘convencer’ juízes e a promover lobbies que aprovem leis do seu interesse nas três instâncias de governo para controlar a máquina pública, como a dos transportes coletivos na cidade de São Paulo, da qual arrancam mais recursos para seus objetivos.

Essas bets não atuam apenas para corroer o poder aquisitivo da população vulnerável e empurrá-la para uma vida mais miserável. Concorrem para o fortalecimento do poder paralelo que, além de quebrar o monopólio da força, prerrogativa do Estado, trabalha para minar a capacidade de governança.

As casas de apostas on-line foram legalizadas em 2018, no governo Temer, mas a regulamentação só foi sancionada no início de 2024 — mais para saciar a fome arrecadatória do governo Lula do que para organizar o segmento. Um dos argumentos mais usados para justificar a nova lei foi o de que contribuiria para aumentar a arrecadação em pelo menos R$ 3 bilhões por ano. Ora, entre os efeitos pretendidos pela lavagem de dinheiro está o de sonegar impostos.

O temor é o de que o alastramento dessa febre aumente a inadimplência, que hoje alcança mais de 25% das famílias brasileiras e, em consequência, eleve os custos do crédito.

Celso Ming é comentarista de Economia