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Rev. Renato de Oliveira Camargo Junior

Sobrevivendo em meio à sociedade do cansaço

10 de Setembro de 2024 às 22:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: FREEPIK / NOMADSOUL1)

 

A cada dia que passa, a gente se sente mais cansado e indisposto para realizar as nossas atividades. Aquilo que antes fazíamos com um pé nas costas, tem demandado de nós uma energia cada vez maior. De certa forma, isto é natural, pois, à medida em que os anos passam, os ossos rangem. O estranho desta vez é que o cansaço de hoje parece diferente do cansaço de ontem.

O cansaço de ontem era físico, muscular e nós o tratávamos com uma boa noite de descanso ou conversando despretensiosamente, no final de tarde, com alguns bons amigos. Já, o cansaço de hoje é psíquico, mental e persiste nos castigando, mesmo depois de um final de semana prolongado ou de um tempo de entretenimento na frente da TV ou do computador.

Segundo o sociólogo coreano Byung-Chul-Han, autor de “Sociedade do Cansaço”, esse sentimento é fruto de uma mentalidade urbana bastante autodestrutiva. Uma das características dessa mentalidade, descrita pelo autor, é o positivismo excessivo. A saber, a tendência de acharmos que tudo em nossa vida precisa e vai dar certo, o mais rapidamente possível.

Esse positivismo excessivo rouba a nossa capacidade de assimilarmos o sofrimento como uma realidade inerente à vida humana e, quando as coisas não dão certo, gradativamente, começamos a achar que existe algo de errado conosco, supondo que tudo tem dado certo para as outras pessoas ao nosso redor. Isto gera um peso emocional, que sobrecarrega o nosso sistema e nos cansa.

Quem foi que disse que precisamos estar bem o tempo todo? Que todas as nossas iniciativas têm que dar certo? Que a gente sempre colhe o que planta? Que basta nos esforçarmos para alcançar os nossos objetivos? Que nada vai nos abater ao longo do caminho? Que nunca seremos superados pelos nossos inimigos, se agirmos de maneira correta?

Neste aspecto, podemos afirmar, com lamento, que muitas religiões escapistas, engolidas pelo espírito da autoajuda, têm colaborado para a consolidação desse positivismo excessivo. Elas tentam criar uma percepção de mundo bastante inspiradora e atraente, onde a vida é muito mais colorida do que na realidade é. Essa propaganda é enganosa e não entrega aquilo que promete.

Enquanto vivemos num mundo disfuncional, colapsado pelo afastamento de Deus, estamos sujeitos a situações injustas e decepcionantes: pais abandonam seus filhos, filhos negam os seus pais, cônjuges traem um ao outro, projetos dão errado, decisões equivocadas nos fazem sofrer, empresas quebram e nem sempre aqueles que lutam despontam como vencedores no final.

Diferentemente do que possamos imaginar, a solução para o problema identificado por Byun-Chul-Han não está simplesmente na aceitação do sofrimento humano. Segundo o próprio autor, as novas enfermidades da sociedade, que podem ser identificadas no aumento descomunal da ansiedade e da depressão, necessitam de uma nova forma de abordagem, uma mudança de paradigma.

Certa vez, Jesus, percebendo o cansaço das multidões, ao invés de discutir a razão que os levara a chegar a esse ponto, disse-lhes: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregado e eu os aliviarei. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, que sou manso e humilde de coração. E achareis descanso para as vossas almas, pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve (Mateus 11:28-30)

Com isto, Jesus nos ensina que o descanso que o nosso coração tanto almeja não está simplesmente no ócio, na distração ou na interrupção dos nossos afazeres profissionais, mas, sobretudo, nele. Jesus é o descanso, pois ele nos aceita como a gente é, independentemente das nossas construções, das nossas obras, dos nossos empreendimentos e nos chama de filhos amados, mediante a sua graça, para nos assentarmos à sua mesa.

Nele, aprendemos a redimensionar as nossas vidas, para que elas funcionem no mundo real, onde somos demandados de mansidão e humildade o tempo todo. Jesus tão pouco nos promete uma vida sem fardos, mas afirma que o fardo dele é suave e leve. Que, neste dia, o convite de Jesus para os que estão cansados e sobrecarregados seja ouvido por você e que nele você encontre o descanso que somente ele pode dar.

Renato de Oliveira Camargo Junior, é teólogo formado pelo Seminário Presbiteriano do Sul, pós-graduado em Liderança pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, doutor em Ministério pelo Missional Trainning Center, diretor do Centro de Treinamento para Plantadores de Igrejas e pastor Plantador da Comunidade Presbiteriana Campolim, em Sorocaba.