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Nildo Benedetti

Minissérie da Netflix: ‘Corpo em chamas’ (3ª parte)

05 de Setembro de 2024 às 22:49
Cruzeiro do Sul [email protected]
Rosa Peral e seu namorado morto, Pedro
Rosa Peral e seu namorado morto, Pedro (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Observando o repertório de filmes da Netflix, podemos constatar que atualmente o público parece se encantar com documentários e filmes de casos verídicos. Nada há de errado nesse encantamento, desde que tenhamos em mente o fato de que documentários e filmes “baseados em fatos reais” não são portadores da verdade absoluta.

O pintor Pablo Picasso escreveu que a “Arte é uma mentira que nos faz compreender a verdade”. A verdade a que Picasso se referiu não é a definitiva sobre fatos históricos ou científicos, mas é a verdade contida no sentido da obra de arte dado pelo espectador em seu processo de interpretação. Se, como dissemos, os livros de História, os documentários e os filmes de ficção baseados ou não em fatos reais, devem ser vistos como a exposição de pontos de vista sobre determinado fato real ou fictício. Os bons filmes declaradamente de ficção são poderosas fontes de reflexão sobre verdades a respeito de temas das ciências humanas e, nesse sentido, podem ser mais abrangentes, mais realistas e certamente mais marcantes na mente do espectador do que documentários e filmes baseados em fatos reais. Nesse sentido, a análise da série “Corpo em Chamas” expressa o meu ponto de vista sobre o filme a partir do ponto de vista do diretor sobre o crime ocorrido em 2017 na Espanha. Mas, como se verá ao longo desta análise, analisar a série possibilita um amplo discurso sobre a natureza humana que certamente seria inalcançável pela análise do sintético documentário “O Caso Rosa Peral”.

Sinopse do filme

O episódio narrado em “Corpo em chamas” ficou conhecido como “O Crime da Guarda Urbana”. Em 2017 foi encontrado, perto do pântano em Foix, na província de Barcelona, o cadáver carbonizado de um homem dentro de um carro totalmente queimado. A perícia conclui que se tratava de Pedro, um policial namorado de Rosa Peral, também policial. A queima do corpo de Pedro levou a polícia a crer que se tratava de crime executado por traficantes de drogas. A inspetora Ester Varona é encarregada de investigar o caso.

Rosa, de início, acusa seu ex-marido Javi, também policial, com quem tinha uma filha de sete anos. Javi, separando-se de Rosa por adultério cometido por esta, reconstruiu sua vida com outra mulher.

Durante o período de casamento com Javi e depois em sua relação com Pedro, Rosa mantinha um caso extraconjugal com Albert López, também policial, e que foi parceiro de patrulha de Rosa durante vários anos. Era uma relação entremeada por algumas separações, porque Rosa também se envolveu com um superior hierárquico de outra delegacia de polícia. Ela acabou sendo transferida dessa delegacia quando teve uma cena íntima de sexo com o superior divulgada nas redes sociais.

Um homicídio envolvendo uma policial bonita e a queima de um cadáver tem grande valor para a televisão, porque estimula a audiência e, com isso, aumenta a possibilidade de angariar anunciantes. É dessa forma que, na série, os jornais de televisão dão informações sobre o crime, muitas vezes simulando nobres sentimentos morais. Mas, na verdade, escondem mal a satisfação de estar atraindo a audiência para fazê-la sofrer ou vibrar com a desgraça dos envolvidos na tragédia.

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec