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Arnaldo Nardelli Ferreira

Homenagem a um Pai, o saudoso Capitão Arnaldo

03 de Setembro de 2024 às 22:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
A identificação de Arnaldo Ferreira com a Polícia Rodoviária era tanta que, mesmo formado no curso de Direito, em 1973, continuou sua carreira policial, chegando a cursar a Academia do Barro Branco em São Paulo, onde se formou tenente
A identificação de Arnaldo Ferreira com a Polícia Rodoviária era tanta que, mesmo formado no curso de Direito, em 1973, continuou sua carreira policial, chegando a cursar a Academia do Barro Branco em São Paulo, onde se formou tenente (Crédito: ARQUIVO PESSOAL)

Meu pai, Arnaldo Ferreira, conhecido como Capitão Arnaldo, nos deixou no dia 25 /06 /2021, vítima das complicações da Covid-19. Ele nasceu em Agudos, Estado de São Paulo, no ano de 1940, filho de Antonio Ferreira e Otilia Tenório de Albuquerque, que vieram de Pernambuco e Alagoas, respectivamente, para tentarem uma melhor condição de vida no Estado. Foi criado em Rancharia/SP e, sendo o segundo mais velho de uma família de sete filhos, começou a trabalhar desde muito cedo para ajudar no sustento da casa, tendo sido engraxate, balconista e auxiliar de escritório.

Aos 18 anos, Arnaldo resolveu tentar a vida em São Paulo, chegando a trabalhar em algumas lojas de departamento, até conseguir uma vaga como auxiliar de escritório em uma empresa de construção civil pertencente ao Banco Bradesco. Após certo período trabalhando nessa construtora, resolveu prestar concurso público para ingresso na Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo, já que isso viabilizaria também seu desejo de retornar para o interior, próximo de sua família de origem. Seu chefe, o sr. Lima, que também era cunhado do sr. Amador Aguiar, proprietário do Banco Bradesco, por diversas vezes tentou dissuadir o jovem Arnaldo da ideia de ingressar na Polícia Rodoviária, dizendo-lhe que no futuro poderia ser “um diretor do banco”. Mas Arnaldo decidiu seguir seu sonho de infância e, no dia 14/09/1962, finalmente ingressou como soldado na Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo.

Após algum tempo, foi destacado para trabalhar na rodovia Raposo Tavares, em Cotia/SP. Nesse período, passou a residir numa pequena pensão na cidade de São Roque/SP, onde conheceu a professora Cesira Nardelli, com quem se casou em fevereiro de 1966. Do casamento, nasceram três filhos: Arnaldo, 57, Paulo, 54, e Juliana, 52. Meu pai nunca deixou de lado a ideia de estar próximo da família de origem, tanto que incentivou que sua família viesse para Sorocaba/SP, o que acabou acontecendo em julho de 1964. No ano de 1978, após ter residido nas cidades de São Roque e Itu, Arnaldo, sua esposa e seus três filhos finalmente fixaram residência em Sorocaba/SP. E, apesar de não ter nascido nesta cidade, pode-se dizer que meu pai sempre foi um sorocabano de coração. Aliás, não é exagero dizer que meu pai tinha quatro paixões: a família, a Polícia Rodoviária, Sorocaba e o Palmeiras.

A identificação com a Polícia Rodoviária era tanta que, mesmo formado no curso de Direito pela Faculdade de Direito de Itu, em 1973, continuou sua carreira policial, chegando a cursar a Academia do Barro Branco em São Paulo, onde se formou tenente. Posso afirmar que meu pai foi o verdadeiro “vigilante rodoviário” — corajoso, destemido e íntegro. Foram inúmeras as histórias por ele vivenciadas, como a do dia em que, ao realizar uma fiscalização de rotina em um caminhão parado às margens da rodovia “Castelinho” em Sorocaba, acabou abordando e prendendo, sozinho, dois indivíduos que transportavam droga e vinham de táxi em direção a Sorocaba. Ou na ocasião em que saiu correndo sozinho em meio a um matagal da mesma rodovia para prender um bandido que tentou fugir numa apreensão. Lembro-me com orgulho de suas histórias, principalmente de suas atitudes perante as adversidades.

Como policial rodoviário, sempre fez questão de respeitar a todos, desde os superiores, colegas, comandados, até os motoristas e passageiros dos veículos fiscalizados. Nunca admitiu indisciplina, desrespeito e qualquer conduta irregular de quem quer que fosse. Dentre as histórias vivenciadas por meu pai, uma que marcou muito foi quando, na posição de Comandante do Pelotão da Polícia Rodoviária em Sorocaba, concedeu uma entrevista a um repórter do jornal Estado de São Paulo, apontando os locais mais perigosos da rodovia Raposo Tavares, na região de Sorocaba, além de informar com exatidão o número de acidentes e de vítimas fatais, quando a rodovia ainda não era duplicada.

Tal entrevista acarretou a ele, na época tenente da Polícia Rodoviária, sua imediata remoção de Sorocaba para uma cidade na divisa com outro Estado. Como na época meu pai já contava com mais de 30 anos de serviços prestados à corporação, decidiu pedir sua passagem para a reserva, alcançando o posto de Capitão.

Felizmente, a entrevista concedida teve grande repercussão perante a sociedade civil, já que a população de Sorocaba e de toda a região há muito tempo tentava uma solução eficaz para cessar o grande número de acidentes ocorridos na Raposo Tavares, especialmente devido ao elevado número de mortes. Assim, com a ajuda de alguns políticos, especialmente do governador Mário Covas e do ex-prefeito Renato Amary, a duplicação da Raposo Tavares finalmente saiu do projeto e foi colocada em prática. Aliás, numa das passagens do governador Mário Covas por Sorocaba, ele fez questão de destacar a atuação do então Capitão Arnaldo na duplicação da rodovia Raposo Tavares, agradecendo-o como justo reconhecimento por uma luta incansável.

Aposentado da Polícia Rodoviária, o Capitão Arnaldo não parou. Foi convidado a integrar a equipe da administração municipal no primeiro mandato do prefeito Renato Amary, como assessor técnico da Secretaria de Transportes, cargo que exerceu por cerca de 10 anos. Muitos devem se recordar do Capitão Arnaldo, com seu colete amarelo, orientando e advertindo os motoristas, especialmente nos dias e horários de trânsito intenso. Arnaldo Ferreira era um profundo conhecedor do trânsito e de tudo o que estava relacionado ao tema, tanto que concedeu inúmeras entrevistas à imprensa local para tratar sobre o assunto, além de ir pessoalmente em várias empresas para dar o curso de Direção Defensiva aos funcionários. Não me esqueço dos ensinamentos que deixou em relação ao trânsito, especialmente de que tudo era uma questão de respeito e bom senso!

Em Sorocaba, Arnaldo Ferreira deixou inúmeros amigos, além de ter participado ativamente da sociedade sorocabana. Deixou também uma saudade imensa na família como um todo, seja entre os irmãos, sobrinhos e/ou parentes próximos, além dos amigos, pela sua presença, pela sua generosidade, pelo seu carinho, pelas suas palavras bondosas e pela vontade de ajudar quem quer que necessitasse.

Por tudo isso, só tenho a agradecer pelos bons anos que passamos juntos, e tenho plena esperança de que um dia iremos nos reencontrar! Saudades!

Arnaldo Nardelli Ferreira é advogado. Ele escreveu esse texto em agosto/2024.