João Alvarenga
Vitrine das tragédias
Assistir às notícias da TV, à noite, tem sido perturbador. Às vezes, num único noticiário, ficamos assustados com tantas matérias negativas. A vitrine expõe de tudo. São doenças, guerras, catástrofes climáticas, acidentes, criminalidades, balas perdidas e golpes virtuais. Há muito sofrimento acontecendo ao mesmo tempo no planeta, que temos a impressão de que forças malignas estão no comando do mundo. Mas, quem as elegeu? Eis um enigma que não tem uma única resposta. Todavia, basta olhar em volta para ver que a situação planetária não está nada favorável atualmente. Será que nossa espécie está em risco?
Para um crente fervoroso, não é difícil supor que vivemos os dias do Apocalipse descritos na Bíblia. Isso soa até como ironia, neste século, em que a tecnologia é endeusada pelos donos das big techs. Aliás, muitos espertalhões vendem os recursos das inteligências artificiais como solução para todas as mazelas da humanidade. No fundo, sabemos que é mais uma forma de manter o status quo de quem está “nadando em dinheiro”. Enquanto isso, os famélicos do planeta assistem a um esdrúxulo paradoxo: sobram recursos para as futilidades governamentais, mas falta boa vontade dos poderosos para por fim ao sofrimento do povo.
Nesse contexto, o cenário é desconfortante em vários sentidos, pois temos conflitos em várias partes do globo, quase todos movidos por arrogância, prepotência e tirania. Tais ações são desencadeadas por disputas territoriais, questões econômicas ou até religiosas. Alguns podem dizer que a origem de tudo só tem uma matriz: a vaidade! Sim, bem como consta nas Escrituras Sagradas: “...tudo sob face da terra é vaidade”. Há quem diga que esse famoso sentimento é a mola motriz dos que se acham “donos do mundo”.
Nesse aspecto, não se pode duvidar disso, pois muitos homens públicos, quando chegam ao poder, não querem abrir mão dele em hipótese alguma. Para isso, chegam até a ameaçar com “banho de sangue”, caso suas vontades não sejam atendidas. Ou seja, ignoram o real sentido da palavra DEMOCRACIA: “O poder emana do povo e em seu nome é exercido”. Também desprezam o fato de que seu desgastado modelo de governo não agrada mais a população.
Pior, refutam o fato de que seus desmandos têm gerado descontrole econômico, como temos visto em vários países, cujos governantes com viés populista não controlam os gastos públicos. E quando há rombos orçamentários, acenam com mais impostos.
Porém, tais opressores, com mãos de ferro, usurpam a liberdade da maioria, com velhos clichês: “defendemos a soberania nacional”/“estamos combatendo a desigualdade social”. Aliás, essas falas não encontram ressonância entre os mais pobres. Por quê? Porque, ironicamente, toda vez que os líderes globais pretendem discutir essas pautas, sempre o fazem torno de lautos jantares. Detalhe: banquete pago com impostos extraído dos mais pobres. Claro que a ladainha cai em descrédito, porque muito se fala e pouco se faz. Haja vista que o Brasil, segundo a ONU, ainda está no “Mapa da Fome”, porque falta comida na mesa dos brasileiros mais humildes.
Além da miséria crescente no mundo, situação que desencadeia processos migratórios — já que boa parte ou foge da pobreza ou, então, são refugiados de guerra — os desemparados ainda enfrentam tragédias naturais de proporções gigantescas que abalam suas estruturas físicas e emocionais.
Tais fenômenos soam como se fossem uma espécie de revide da “mãe natureza” pelos descasos do próprio ser humano para com o meio ambiente. O consumismo exacerbado, associado ao descarte inadequado de lixo, tem resultado em danos ambientais quase que irreversíveis. Nas florestas, sobram queimadas e desmatamentos. Nos oceanos, ocorre a morte silenciosa de grandes mamíferos, pois as águas estão tomadas por plásticos e outras substâncias tóxicas. Assim, mesmo com a TV desligada, não dá pra ter um sono tranquilo. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação.Vitrine das tragédias