Celso Ming
Turbulência nos mercados globais
De repente, forte turbulência no mercado global. Na sexta-feira passada, as bolsas ao redor do mundo despencaram, os juros afrouxaram no mercado futuro, as cotações do petróleo tipo Brent caíram 3%, as moedas dançaram freneticamente. Sobreveio a sensação geral de que a economia dos Estados Unidos descarrila para a recessão.
Quase ninguém previa esse tranco. Ainda na quarta-feira, o Fed (banco central dos Estados Unidos) apontava para um pouso suave à frente. Seu presidente, Jerome Powell, sugeriu que, em setembro, poderia começar a reduzir os juros básicos (Fed funds), não para combater uma trombada súbita da principal economia do mundo, mas, quem sabe, para ajustes de calibragem às vésperas das eleições presidenciais.
Dois indicadores da economia dos Estados Unidos detonaram movimentos de fuga para refúgios de segurança. Foram eles: a queda da criação de empregos em julho a níveis muito abaixo dos esperados; e a forte redução das encomendas à indústria, em junho.
Essa reação indica que já preexistia a sensação de que há algo ruim em armação. Foi como se o clima fosse de estresse e que, lá pelas tantas, um ruído de galhinho que se quebra na floresta tivesse espantado de repente bichos e passarada.
A reação imediata dos analistas passou a ser de que o Fed foi atropelado pelos fatos. Aumentaram as apostas de que, para enfrentar a paradeira, em setembro o Fed seja obrigado a baixar os juros básicos não em apenas um quarto de ponto porcentual ao ano, mas pelo menos em meio ponto. Nenhum indicador mostrou melhor o alastramento da insegurança e a fuga imediata do risco do que o comportamento do Índice Vix, considerado o ‘termômetro do medo‘, que na sexta-feira saltou 25,8% em relação à posição do dia anterior.
Convém não cravar projeções de recessão mundial inevitável. As coisas não se comportam como em 2008, na crise do subprime e da quebra estrondosa do Lehman Brothers. Ainda falta pulso melhor do que ocorre e essa reação pode ter sido exagerada.
Mas, se essa recessão se confirmar e se o Fed passar a atuar como para-choque e puxar os juros para baixo, fatores novos podem ajudar a economia brasileira. O dólar, por exemplo, deverá sofrer desvalorização em relação aos demais ativos e, assim, recuar no câmbio brasileiro.
Se isso se confirmar, podem-se afrouxar as fortes tensões que puxaram as cotações do câmbio em reais para cima e, assim, contribuir para segurar a inflação. Outro impacto desinflacionário poderá provir da moderação ou, mesmo, de queda firme das cotações das commodities. Enfim, coisas a conferir.
Celso Ming é comentarista de Economia