João Alvarenga
Adeus, moedas!
Será que o dinheiro de papel vai mesmo acabar? Pelo menos é que aponta uma pesquisa feita, recentemente, pelo “Mercado Pago”. Em matéria publicada no Cruzeiro do Sul, ficou nítido que 50% dos brasileiros acreditam que o papel-moeda está com os dias contados. Para os entrevistados, em 10 anos, a nossa relação de compra e venda será totalmente transformada. Com isso, as notas de R$ 100,00 serão peças de colecionadores. Não só isso, pela velocidade do trem bala, até as agências bancárias físicas estão ameaçadas.
Ou seja, poderão desaparecer da paisagem urbana. Por quê? Simples: os bancos virtuais se tornaram mais atrativos porque não têm tarifas nem burocracias que os tradicionais têm. Ou seja, nesse ambiente virtual, tudo parece mais fácil, rápido e seguro. Será? É o que veremos.
Com essas mudanças em curso, como ficarão os idosos? Afinal, para quem viveu mais da metade da vida no sistema analógico, as transformações — que ocorrem num ritmo frenético — são assustadoras. Mas, a terceira idade não tem recebido orientação sobre como utilizar essas ferramentas que, para as novas gerações são maravilhas do “admirável mundo novo”. Assim, muitos desconfiam da realidade virtual, principalmente quando o assunto envolve dinheiro. Motivos: como controlar o saldo? E se o dinheiro sumir? Além disso, os constantes golpes digitais inquietam a sociedade, já que temos a impressão de que a Inteligência Artificial se tornou uma aliada do crime.
Apesar dessas incertezas, o mundo digital está “engolindo” a vida analógica em vários setores da produção, focando agora o sistema financeiro. Diante da possibilidade do dinheiro físico desaparecer, surge um questionamento inevitável: como serão feitos os pagamentos nesse futuro maravilhoso? Os futurólogos de plantão não hesitam em decretar que tudo será pela via digital. Isso parece fantástico! Porém, se houver um apagão virtual, como ocorreu recentemente? Apesar dessa possível ameaça, boa parte das transações já ocorre pelo uso de cartões de débito e crédito (para a alegria das operadoras). Isso sem contar o sucesso do Pix, que se tornou a principal opção para o comércio. Qual razão? Até o presente momento não tem taxas. E todo mundo torce para que fique assim. Afinal, o povo, que já paga tantos impostos, não suportaria mais uma “taxazinha” extra para operar o próprio dinheiro.
Além desses recursos disponibilizados à sociedade, o Banco Central anuncia a criação do Drex, o “Real Digital”. Anunciada para este ano, ainda não há uma data definida, pelo Banco Central, para que essa moeda digital entre em circulação. Quando isso ocorrer, será mais um duro golpe no dinheiro de papel. Porém, é interessante observar que, de acordo com a Numismática — ciência que estuda as moedas desde as sociedades antigas — o uso da moeda física sempre fez parte da História, desde os primórdios da humanidade. Isso para atender às necessidades de determinar valores dos produtos e mercadorias nas relações de trocas, das civilizações antigas até os nossos dias. Logo, as moedas fazem parte da cultura das civilizações. Com a moeda digital, essa memória será deletada?
Apesar das contradições expostas até aqui, há quem acredite que essas mudanças trarão inúmeros benefícios para a economia do País. Primeiro, agilizará o processo de pagamentos e recebimentos; segundo, o governo não precisará emitir papel-moeda. Tais recursos poderão ser investidos em outros setores da administração pública. Além disso, especialistas acreditam que o uso do cartão-moeda acabará com um problema ad eternum no comércio brasileiro: a constante falta de troco. Quem vai às compras, nota que o cenário não está nada favorável às moedinhas. Muitas delas estão praticamente sumidas do comércio sorocabano, principalmente as de menor valor. As de R$ 0,01 já viraram peça de museu. Por isso, muitos estabelecimentos arredondam a conta para evitar constrangimentos. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação.