Marcelo Augusto Paiva Pereira
Cheios e vazios
Desde a Grécia Antiga os conceitos de cheios e vazios têm sido aplicados nas obras arquitetônicas. Os arquitetos do modernismo também os aplicaram em muitos projetos, dos quais são exemplos Frank Lloyd Wright, Le Corbusier, Oscar Niemeyer e a escola de artes e ofícios da Bauhaus. Seguem abaixo alguns comentários.
Os conceitos de cheios e vazios são objeto de estudos acadêmicos e aplicação em projetos. Conceito é uma noção ou ideia, ainda que abstrata; definição é o conceito acrescido das características que o tornam singular.
Na arquitetura, cheio é a ideia que se tem dos componentes estruturais, como são as colunas, pilares, pilastras e paredes, enquanto vazio são os vãos livres, os das portas e janelas, os espaços desenhados por estes e os de conexão entre ambientes, pelos quais circulam ar, luz e pessoas.
No urbanismo, cheio é o espaço ocupado pelas casas, edifícios residenciais, comerciais, galpões industriais e outras construções. Vazio são os espaços urbanos entre estas, como são as ruas, praças, logradouros públicos em geral e, também, os terrenos sem construção e desocupados.
Referidos conceitos também se aplicam nos projetos arquitetônicos quanto ao equilíbrio estético entre as partes componentes, no afã de distribui-las em harmonia ao desenho de cada projeto. Uma regra conhecida dos arquitetos e urbanistas é o número de ouro, procedente da Grécia Antiga, pela qual vários edifícios foram e são dimensionados com proporções equilibradas.
Na arquitetura os efeitos visuais dos conceitos de cheios e vazios são expostos no jogo de sombra e luz de um conjunto de espaços conexos entre eles, das fachadas (elevações) de um edifício ou, ainda, de uma residência. Surge um efeito luminoso que contribui para o conforto dos ambientes ou para a harmonização das fachadas.
No urbanismo tais efeitos visuais se perdem e se misturam entre os diversos ramos da malha urbana, em razão da escala da cidade ser maior do que a humana. Mesmo que a finalidade seja atribuir conforto e estética aos espaços urbanos, surgem efeitos perigosos, como são ruas e travessas sombrias e outras, sem efeitos luminosos que acolham os transeuntes.
Também causam prejuízos econômicos e ambientais, porque as ineficientes fontes de iluminação desses ambientes geram maior consumo de energia, que onera os consumidores e fomenta a construção de mais usinas, inclusive nucleares, em prejuízo do meio ambiente natural.
Conclusivamente, desde a Grécia Antiga os conceitos de cheios e vazios elaboram os projetos arquitetônicos e urbanísticos na razão do conforto e da estética e na medida dos efeitos visuais. Mas, enquanto na arquitetura eles a preenchem harmoniosamente, no urbanismo o esvaziam por causa dos efeitos danosos à segurança, ao conforto urbano e ao meio ambiente natural. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.