João Alvarenga
O nó da economia
Há um ditado que diz: “em casa que falta pão todo mundo grita e ninguém tem razão”. Embora antiga, essa máxima se aplica aos nossos dias, pois exatamente, neste mês, em que o Brasil celebra os trinta anos de sucesso do “Plano Real”, assistimos atônitos ao enfraquecimento do nosso rico dinheirinho. Parece lenda, mas o Real já foi considerado “moeda forte”. Não só isso! Fez frente ao dólar e pôs fim à escalada inflacionária que atormentava a vida do cidadão brasileiro. Isso graças às manobras da equipe econômica do então presidente Itamar Franco.
Todavia, o momento atual chama a atenção da sociedade, porque parece que o combate à inflação deixou de ser prioridade para os governantes. Porém, economistas já deram o recado: é preciso cortar gastos públicos para conter o rombo orçamentário. Mas, esse assunto é indigesto para o governo que tem um “nó” pela frente: como definir prioridades para uma população que convive com inúmeras mazelas? Além disso, máquina pública está inchada, algo que, também, compromete o teto de gastos.
Realmente, fica difícil para qualquer burocrata determinar quais áreas são, de fato, prioritárias e quais são ‘perfumaria’? Até mesmo dentro do próprio governo há divergências, pois o que para alguns são gastos; para outros, investimentos. A disputa pelo bolo é acirrada. Há quem afirme que Saúde, Educação e Previdência Social são fundamentais, portanto, não podem sofrer contingenciamentos.
Só que esbravejar contra a política de juros do Banco Central não ajuda em nada, pois o mercado fica nervoso. Tanto que o dólar já tá na casa dos R$ 5,50. No entanto, é bom lembrar que, quando a moeda de um país enfraquece, a população perde o seu poder de compra. Uma crise se instala na sociedade. Um clima de desconfiança tanto na política quanto nas instituições entra em cena. Isso sedimenta a frase que abriu este artigo, em que as pessoas perdem a razão, além de gerar um sentimento de egoísmo, algo expresso em outro ditado também muito famoso: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Desse modo, não precisa ser especialista em economia para perceber que há, sim, um descontrole nos preços dos gêneros de primeira necessidade. Os consumidores já sentem os efeitos da carestia, pois algumas empresas estão exagerando na alta dos preços dos alimentos. Mas, por que, se o índice inflacionário está dentro da meta do governo? É simples: sentem que não há fiscalização. Isso tem nome: “abuso do poder econômico”. Os cidadãos pedem que o Procon combata os abusos, porque algumas indústrias do setor alimentício estão reduzindo a quantidade de produtos nas embalagens, sem reduzir o custo. Dependendo da mercadoria, a redução chega a 100g.
Claro que isso gera uma inquietação, pois já vivemos dias difíceis com uma inflação que atormentava a vida da população. Nos anos 90, tínhamos uma hiperinflação. As novas gerações não imaginam como é viver num país em que os preços eram totalmente instáveis. Ou seja, subiam da noite para o dia. Conforme o produto, pela manhã, tinha um preço; à tarde, era outro. Cenário que beneficiava os especuladores e empobrecia a nação.
Assim, é importante que esse período triste da nossa economia nunca seja esquecido, principalmente a saga que conteve o “dragão” da inflação, a fim de que esse legado não se perca. Mais do que isso, que os futuros governantes não abandonem a árdua missão de manter um rígido controle sobre os preços, para que esse pesadelo não retorne.
Embora a própria mídia ignore, deu trabalho para arrumar a casa. Antes do Real, vimos vários planos fracassarem. Tivemos até congelamentos e confisco da poupança, nada deu certo. Além disso, a moeda mudava o tempo todo: Cruzeiro, Cruzeiro Novo, Cruzeiro Real Cruzado. Foi um horror!
Quem quiser conhecer essa história, há, no Youtube, um documentário, feito pela TV Record, que conta os bastidores dessa epopeia. Que esse drama não se repita. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação.