João Alvarenga
Qual a finalidade da escola?
Como na semana passada abordamos os dados recentes do IBGE sobre a “Geração Nem-nem”, jovens que não estudam e nem trabalham, daremos sequência a esse problemático assunto. Desta vez, faremos uma análise sobre o real papel da escola neste século, pois educadores, ao mesmo tempo em que enfrentam a evasão escolar, principalmente no ensino médio, convivem com uma incógnita: como tornar o ambiente escolar mais atrativo para que os adolescentes se interessem pelos estudos? Será que as máquinas saberão responder? Afinal, as inteligências artificiais ocupam cada vez mais espaço em nossa sociedade, gerando inquietação às áreas de produção e de serviços.
Por isso, partimos de uma pergunta provocativa que dá título a este artigo, para promover essa reflexão. A ideia, aqui, não é oferecer respostas prontas para um assunto tão complexo, mas tentar entender o porquê de tanto desprezo para com os estudos. Talvez, muitos imberbes ignorem que a construção do saber passou, passa e passará (sempre) pelos bancos escolares, desde as priscas eras. O fato é que, também, no passado, muitas famílias valorizaram o trabalho em detrimento aos estudos.
Apesar desse equívoco, uma verdade é inquestionável: o progresso da humanidade só é possível a partir da transmissão do conhecimento, passado de geração em geração. Até os gênios da História que tanto admiramos viveram seus dias de aprendizes. Também foram alunos, portanto, tiveram professores que os ajudaram na construção de teorias fundamentais à evolução da nossa espécie. Logo, tudo o que sabemos — que está registrado em livros, enciclopédias ou nas páginas da internet — é fruto do intelecto humano e não de máquinas. Ou seja, é produto de uma vida escolar permeada por uma contínua busca pelo saber.
Porém, lamentavelmente, um comportamento juvenil se tornou objeto de preocupação dos educadores: a visão distorcida do real propósito da escola. Atualmente, há muitos questionamentos sobre o papel da escola, numa sociedade cada vez mais virtualizada. Outro ponto: como a Inteligência Artificial pode ser em uma aliada dos educadores na missão de ensinar? Detalhe: isso sem tolher o espírito investigativo das aulas. O problema é que se criou, na sociedade, o ‘mito’ de que não precisamos mais pensar, porque, como preconizava um poema de Cassiano Ricardo, “as máquinas pensarão por nós”. Assim, infelizmente, as pessoas estão “aposentando” o cérebro.
O fato é que há um paradoxo nisso tudo, pois ao mesmo tempo em que os avanços tecnológicos nos surpreendem, muitos jovens se mostram alienados diante do mundo virtual, pois só utilizam tais ferramentas exclusivamente para o lazer (leia-se jogos eletrônicos). Para eles, aprender se tornou “sinônimo” de diploma. Claro que isso é uma falácia! A escola, como sempre defendeu o filósofo, Jacob Bazarian, liberta a sociedade da prisão da ignorância. Para ele, a escola, ao promover o crescimento sociocognitivo dos alunos, torna os cidadãos mais críticos.
Apesar disso, infelizmente, há adolescentes que comparam a escola a uma cadeia. Por quê? Pelo fato de ter: regras, hierarquias, horários fixos, uso de uniformes e tempo de intervalo. Tal analogia é incompatível, pois a palavra escola, de origem grega, significa ‘espaço para brincar’. Em outras palavras, aprender de forma lúdica. Além disso, todos os ambientes coletivos têm regras idênticas. Aliás, como está consignado em nossa Bandeira, é preciso haver ordem para que haja progresso.
Felizmente, nem todos os jovens concordam com uma visão tão estreita sobre a vida escolar, que visa promover a cidadania. Numa redação sobre o tema, o aluno Luiz Renato Martins, do Colégio Politécnico, disse que tal comparação é completamente descabida, “porque a escola desempenha um papel crucial na formação intelectual, social e emocional dos alunos”. Para ele, a escola também é um espaço de socialização. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação.