João Alvarenga
Cadê o humor?
Dizem que rir é o melhor remédio. Parece que essa máxima não encontra ressonância, atualmente, em nosso País. Por quê? Você já reparou que os programas de humor, com esquetes bizarros e ingênuos, simplesmente sumiram da TV brasileira? Por qual motivo os humoristas estão perdendo seus empregos? É o que vamos tentar entender neste artigo que, longe de provocar polêmicas, quer apenas promover uma reflexão sobre um comportamento que mudou o perfil do povo brasileiro, antes visto como brincalhão e, agora, mostra-se sisudo, estressado, como se estivesse “de mal com a vida”.
Porém, para não ser injusto, observamos que restauram alguns poucos programas humorísticos em alguns canais pagos; no entanto, nem de longe lembram os áureos tempos da comédia de costumes, em que até mesmo as mazelas do cotidiano e as trapalhadas da política nacional eram um prato cheio para os comediantes satirizarem. Aliás, fazia-se piada de tudo, principalmente da realidade do brasileiro, pois os comediantes não temiam sofrer qualquer tipo de represália ou, mesmo, serem mal interpretados por algum comentário desencontrado.
Atualmente, temos a impressão de que a piada, que antes fazia parte do dia a dia do brasileiro comum, está judicializada. Claro que, antigamente havia muitos exageros por parte até de alguns comediantes, com “anedotas sujas” ou ofensivas, pois a sociedade não tinha a exata noção dos limites entre humor e ofensa. Ocorre que partimos da permissividade total à censura desmedida. Logo, qualquer comentário, por mais inofensivo que pareça, pode ser motivo de “lacração” nas redes sociais. Há uma evidente perseguição aos comediantes, tanto que a “onda” de Stand-Up — antes um fenômeno — agora está em baixa, porque parte da sociedade decretou “tolerância zero ao humor”.
Todavia, a percepção de que o humor está “enterrado” não é um fenômeno que acontece só aqui, pois o famoso comediante Jerry Seinfield, estrela do seriado cômico norte-americano mais bem-sucedido de todos os tempos, queixou-se, recentemente, de que por lá os humoristas também estão sendo vítimas de perseguição ideológica. O comediante culpou os excessos do “politicamente correto”. Em uma entrevista à revista The News Yorker, Seinfield lamentou a mudança de comportamento do povo norte-americano em relação ao humor, algo que tem gerado mais estresse na sociedade. Ele observou que, ao retornar para casa, depois de um dia exaustivo de trabalho, as pessoas anseiam por um “alívio cômico” na TV, mas esse tipo de programa está praticamente banido das emissoras. Na sua visão: “A extrema-esquerda prejudicou o humor com a patrulha do politicamente correto”.
Entretanto, Seinfield não está sozinho nessa bravata, por aqui, o também comediante Rafael Cortez expôs sua crítica à falta de programas humorísticos no final de noite na TV aberta. Cortez, que começou sua carreira no hilário CQC (Custe o Que Custar), na Band, disse que há duas décadas não havia tanta censura como nos dias de hoje. Com pautas polêmicas, o programa pegava no pé dos políticos sem restrições ideológicas. Tanto que acumulou muitos processos. Por isso, dizem, foi tirado do ar.
Mas, se a nova geração deseja conhecer como eram os programas de humor do século passado, no Youtube, há um belo documentário produzido pelo Canal Brasil, que presta uma singela homenagem aos antigos programas do gênero que, na época, passavam longe dos embates políticos, mas só tinham uma única missão: fazer rir. Foram lembrados os saudosos: “Balança mais não cai”, “Faça humor, não faça a guerra”, “Planeta dos Homens”, “Satiricom”, “Chico Anysio Show” e “Os trapalhões”, além de cenas dos filmes do inesquecível Mazzaropi, o eterno caipira, que levava multidões para o cinema. Enfim, dessa lista, restou apenas “A praça é nossa”, há 30 anos no SBT. Tal longevidade é a prova cabal de que o humor inocente só faz bem. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação