Dom Julio Endi Akamine
Falar de Deus: testemunho, anúncio e trabalho
Vivemos em um mundo que cada vez mais obrigará os cristãos a serem existencialmente mais coerentes com a sua fé, mais corajosos frente às dificuldades e mais conscientes de suas escolhas. Por isso, quem deseja falar de Deus aos outros precisa fazer um esforço em conhecer, estudar e amar a fé cristã. A fé não é uma adesão cega e sem conteúdo: sabemos em Quem cremos e sabemos o que acreditamos.
O melhor meio de falar de Jesus e de Deus aos nossos contemporâneos é o testemunho de vida. Quando vivemos com sinceridade e alegria a fé em Cristo e nosso comportamento é coerente com o Evangelho, a fé se transmite por atração e não por imposição ou manipulação. Por isso o primeiro passo para falar de Deus aos outros é viver com Ele, amá-lo com todo o coração e buscá-lo sempre e em todos os lugares. Com efeito, como falar de Deus, se não no encontro pessoalmente na vida e na oração? Por isso são tão importantes os sacramentos, principalmente a eucaristia e a confissão. São o modo concreto de se encontrar pessoalmente com Jesus.
Evidentemente, é preciso também buscar falar bem, de quem amamos, aos outros. Isso nem sempre é fácil, porque isso exige duas coisas relacionadas entre si: atenção às dificuldades dos outros e a comunicação significativa. Precisamos estar atentos às dificuldades, às críticas e aos questionamentos dos outros. Muitas pessoas têm dificuldades em aceitar a fé cristã por preconceitos e informações falsas. Nesse caso será necessário superar os preconceitos e esclarecer os mal-entendidos. Outras pessoas têm dificuldades mais afetivas em relação à fé cristã: decepções e feridas, acontecimentos traumáticos na história pessoal que devem ser enfrentados com paciência e solidariedade. Para isso é muito importante a catequese, a leitura e estudo da Palavra de Deus e do Magistério da Igreja. O estudo é necessário a fim de que possamos dar razões da nossa esperança.
Outra forma importante de evangelização é o exercício consciente de um trabalho. Muitos acham que para ser um bom profissional bastam os estudos. A formação intelectual e técnica, porém, só ajuda no crescimento integral humano e contribui eficazmente para o bem comum da sociedade se houver a formação do caráter, a prática da ética e da moral, a oração e a vida de fé. Sem temer Deus, a pessoa pode se embrutecer e se corromper. É claro que professar a fé não garante automaticamente uma vida honesta e ética, mas não há como negar que uma fé que não se expresse numa vida ética é contraditória em si mesma.
O Dom do Espírito Santo derramado em nossos corações nos fortalece para buscar uma formação que integre não somente os conhecimentos técnicos, mas também a maturidade humana e a vida de santidade. Com uma formação integral, os cristãos se tornam os trabalhadores e os cidadãos que a sociedade e a Igreja tanto necessitam. Assim o trabalho em vista do bem comum é uma forma elevada e eficaz de falar de Deus aos outros.
Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba