Celso Ming
A demissão de Prates
Depois da fervura no caldeirão, às vezes mais e às vezes menos borbulhante, veio a demissão sumária do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. Entre as justificativas está a de que ele demorou demais para colocar em prática na empresa as determinações do governo.
Na sua primeira comunicação à imprensa depois de sua degola, Prates deu um jeito de chutar a porta. Avisou que o desfecho aconteceu “para regozijo” dos ministros Alexandre Silveira, de Minas e Energia, e Rui Costa, da Casa Civil, seus inimigos figadais dentro do governo.
A questão aí não é de volume de bílis, mas do uso político de uma grande empresa de economia mista para fins que se podem considerar contrários aos objetivos do interesse público.
O presidente Lula não esconde que pretende remanejar recursos da Petrobras para financiar empreendimentos desenvolvimentistas de qualidade duvidosa, como a construção de embarcações de grande porte com chapas grossas nacionais, que estão entre as mais caras do mundo; o despejo de bilhões em novas capacidades de refino, setor que começará a ser desativado em todo o mundo para dar lugar aos combustíveis renováveis; e, ainda, investimento em projetos petroquímicos de baixo retorno.
O ministro Alexandre Silveira já havia brigado com Prates pelo uso do gás natural. Pretende que a Petrobras o canalize para ser queimado em termoelétricas e, assim, cumpra certos objetivos políticos, em vez de reinjetá-lo nos poços para aumento da produção de óleo. E tanto ele quanto Rui Costa definiram que a Petrobras deveria abrir mão de faturamento e assumir parte do preço dos combustíveis, de maneira a garantir a boa vontade do consumidor nas próximas eleições.
Apesar das barreiras estatutárias às deformações da boa governança e, também, das proteções definidas pela Lei das Estatais — que acaba de ser sacramentada pelo Supremo —, aumentou o grau de incerteza sobre o futuro da Petrobras. Entre esses e outros fatores que ainda podem ser considerados redutores de risco, o presidente Lula a quer agora como instrumento de politização.
A Petrobras não é uma lancha capaz de fazer curvas instantâneas de 180 graus. É um transatlântico de grande porte cujo curso precisa ser previamente preparado, não pode ser alterado à velocidade pretendida pelo governo Lula.
Essa é uma das razões pelas quais a alegada demora de Prates em colocar em marcha as mudanças determinadas pelo governo não deve ter tido mais importância do que as razões paroquiais defendidas pelos seus algozes, os ministros de Minas e Energia e da Casa Civil.
Nessas horas, pode servir de consolo a declaração atribuída ao chefão da antiga Standard Oil (hoje Exxon), o bilionário americano John Rockefeller (1839 - 1937): “O melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada; o segundo melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo mal administrada.”
Celso Ming é comentarista de economia