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Dom Julio Endi Akamine

Seminário São Carlos Borromeu

12 de Abril de 2024 às 22:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: ARQUIVO / JCS)

Há mais de um ano, iniciamos a reforma do Seminário Diocesano São Carlos Borromeu, situado na avenida Dr. Eugênio Salerno, 140. Por muitos anos, o prédio, construído e inaugurado pelo primeiro bispo de Sorocaba, dom Aguirre, foi alugado para diversas finalidades. Para a celebração do Centenário, foi tomada a decisão de retomar a sua primeira finalidade.

Quem foi São Carlos Borromeu? Por que foi escolhido esse nome para o Seminário de Sorocaba?

Para responder adequadamente essas perguntas é preciso recordar que São Carlos Borromeu foi arcebispo cardeal de Milão e seu principal mérito foi o de implantar as decisões do Concílio de Trento. Com efeito, o Concílio de Trento formulou os princípios da necessária e indispensável reforma da Igreja Católica, mas, para fazer a reforma não bastam as boas intenções, os princípios corretos, os decretos e os documentos. A reforma de Trento não permaneceu letra morta porque muitos bispos fizeram com que o espírito do Concílio chegasse até as paróquias mais distantes e penetrasse até o mais íntimo das consciências dos fiéis cristãos. Já muitos homens de Deus tinham realizado transformações impressionantes à frente de suas dioceses. Na verdade, a reforma da Igreja, levada adiante por muitos bispos, nunca foi interrompida. Mesmo antes da reforma de Trento, houve quem, com coragem e solicitude, foi exemplo vivo de bom pastor em suas dioceses.

Dentre esses bons pastores, São Carlos Borromeu é uma figura radiosa e importante para nossa arquidiocese e para o nosso seminário. Ele viveu de 1538 a 1584. No dia 30 de janeiro de 1560, o papa Pio IV promoveu o seu sobrinho, Carlos Borromeu, que tinha somente 22 anos, a cardeal. Três semanas depois o nomeou seu secretário de Estado e sucessivamente fez chover sobre ele uma avalanche de títulos: arcebispo de Milão, protetor de Portugal e da Baixa Alemanha, legado de Bolonha, protetor dos carmelitas, dos cônegos de Coimbra, de todos os franciscanos, da Ordem de Cristo, arcipreste de Santa Maria Maior e Penitenciário-Mor. Além disso, o cumulou de benefícios e salários.

Sobrinho do papa, honrarias e renda! Mais um sobrinho de papa! O papa parecia dar sequência ao nepotismo de sempre, mas as aparências enganavam. Com efeito, o Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, o Senhor vê o coração!

Em pouco tempo, Carlos Borromeu mostrou aos romanos o que seria até o fim da vida e em todas as circunstâncias: um trabalhador incansável, uma alma de meditação e de oração. O cardeal-sobrinho e secretário de Estado soube viver como santo, mesmo auferindo rendas enormes pelos cargos que ocupava. O povo romano se rendeu à evidência de sua santidade, pobreza e dedicação pastoral.

Depois de ter participado ativamente na preparação, realização e conclusão do Concílio de Trento, e após a eleição do papa Pio V, Carlos Borromeu considerou que devia dar exemplo e, por isso, obedecendo o decreto sobre a residência episcopal, foi se instalar na Arquidiocese de Milão. Era uma diocese enorme, abrangia, além do território milanês, partes do território veneziano e os Alpes suíços.

Em menos de 20 anos, que obra imensa realizou! Promulgou os decretos de Trento e deu a conhecer as suas intenções ao convocar um concílio provincial com as 15 dioceses sufragâneas; reuniu em torno a si os bons operários que encontrou: jesuítas, barnabitas, teatinos e os clérigos do Oratório que São Felipe Neri acabava de organizar. Pôs ordem em oitocentas paróquias, agrupadas em arciprestados, dirigidos por vigário forâneos. Seguindo as intrusões de Trento, criou seminários maiores: o Colégio Borromeu em Pavia, o Colégio Helvético de Milão e o Seminário Maior de Ascona. Restabeleceu uma rigorosa disciplina em todos os lugares, e os sacerdotes faltosos eram convidados a fazer uma “peregrinação” à cúria da Arquidiocese, de onde eram levados, com cortesia e com firmeza, a uma casa de retiros; só saiam de lá arrependidos e com a emenda de vida. Os mosteiros foram reformados: foram eliminados os bailes e os banquetes! As freiras de clausura receberam ordem de instalar nas janelas grades sólidas, pelas quais os galanteadores não conseguiam passar.

Carlos Borromeu tinha consciência de que a sua obra tinha alcance para além das fronteiras de sua arquidiocese. Sabia que a aplicação dos princípios de Trento correspondia a uma experiência piloto. Por isso teve também o cuidado de publicar todas as decisões, decretos e cartas pastorais: sabia que elas seriam uma orientação de como aplicar na prática o Concilio de Trento. De fato, o bispo de Verona reconheceu que Carlos Borromeu era o “Doutor dos bispos”. Nada mais exato!

Esgotado por todo esse enorme esforço, Carlos Borromeu morreu em 1584, aos quarenta e seis anos de idade, deixando à Igreja um modelo de bispo que viria a ser seguido por muitos outros. Na época de sua morte, vinte anos depois do Concílio, havia na Igreja um grupo de bispos decididos a manter a Igreja no bom caminho que os padres de Trento lhe tinham traçado.

O que tudo isso significa para a Igreja Particular de Sorocaba e para o Seminário São Carlos Borromeu? Isso será a matéria para outro artigo.

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba