João Alvarenga
O sentido do domingo
Embora a expressão “sextou” tenha se tornado uma espécie de senha de acesso ao descanso semanal para quem trabalha duro a semana toda, o domingo, por outro lado, tem um sentido todo especial, principalmente no que diz respeito a quem deseja apenas vivenciar um dia tranquilo. Por quê? Neste artigo, refletiremos sobre o sentido do domingo sob vários aspectos. Primeiramente, é preciso observar que esse dia, inevitavelmente, nos convida a contemplar a existência, a fim de tentar entender o sentido das coisas que estão à nossa volta.
Assim, nem que seja uma breve pausa — não importa” —, o fato é que isso nos possibilita uma reflexão sobre a nossa condição existencial, como forma até mesmo de planejar a semana que virá ou, quem sabe, rever rotas, traçar novos caminhos. Enfim, essa parada é necessária para que possamos renovar nossas energias. Claro que pode parecer uma mera ilusão, mas sentimos que o relógio também diminui seu ritmo nesse dia. Por isso, alguns acham o domingo um tédio. Um poema de Oswald de Andrade registra essa impressão.
Impressões à parte, no fundo, caro leitor, é o tempo pedindo um tempo para você ter tempo. Aliás, um tempinho para você mesmo, para que possa rever a suas coisas, visitar parentes, ler pausadamente este jornal, quem sabe ir à igreja, reunir a família para um almoço festivo, ou então, fazer um passeio há muito planejado. Talvez, concluir aquele livro que parece interminável. Isso é o domingo! Ou seja, um dia para chamar de seu! Sim, porque não terá o chefe por perto, fiscalizando-o... nem responderá e-mails apressadamente. É, literalmente, o “dia da preguiça”. Mas, esse dia, também, representa um estado de paz interior, como forma de esquecer, brevemente, os seis dias anteriores e seus percalços, seja no trabalho ou na vida doméstica.
No entanto, a sexta-feira é, seguramente, o dia mais aguardado da semana, no mundo inteiro, por representar uma vaga ideia de ruptura com os compromissos inadiáveis. É o dia em que adiamos nossas tarefas para a semana seguinte, mesmo que ela esteja logo ali. Para muitos, isso é um baita alívio. É, ainda, notório que a sexta se consolidou como o “dia mundial da balada”, quem é jovem sabe disso, pois deseja aproveitar ao máximo a descontração que a noite oferece.
Mas, se a sexta interrompe, bruscamente, a jornada, com uma breve trégua na lida diária, o domingo reconstitui a ordem do nosso “eu interior”, ao resgatar nossa relação com o sagrado. Quem tem mais de 60 anos entende muito bem essa questão. Nesse contexto, o dominus, traduzido do latim “Dia do Senhor”, torna-se um momento especial para quem mantém uma vida religiosa ativa. Ou seja, é uma rica oportunidade que as pessoas têm, em meio à correria do dia a dia, de dar uma pausa para dialogar com sua crença. Por isso, cultos e missas são bem mais movimentados aos domingos. Um detalhe: não pode haver pressa, quando estamos em comunhão com Deus. Nisso, até mesmo a liturgia e os louvores são mais longos.
Todavia, o leitor pode se perguntar: e o sábado? Não foi no sétimo dia da criação que o Criador descansou? Como certeza, caro amigo, o sábado tem um significado litúrgico importantíssimo, dentro da tradição judaica. Tanto que Deus o santificou. Além disso, até hoje, há segmentos religiosos que se mantêm fiéis a essa tradição, na qual o sábado judaico é respeitado, por representar o término da obra divina.
Para concluir, é preciso esclarecer que, segundo o professor Felipe Aquino, que estuda as Escrituras Sagradas, a tradição de se guardar o domingo e não sábado, para os cristãos, surgiu justamente pelo fato de que Jesus Cristo ressuscitou no domingo, ato celebrado sempre no “Domingo de Páscoa”, pois representa a passagem para uma nova vida, livre do pecado original. A ressureição de Cristo inaugurou a “Nova Criação”, simbolizando uma “nova e eterna aliança” entre Deus e a humanidade. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação