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Nildo Benedetti

‘Namorados para Sempre’ (parte 1 de 4)

04 de Abril de 2024 às 22:49
Cruzeiro do Sul [email protected]
Na foto, o diretor do filme, Derek Cianfrance
Na foto, o diretor do filme, Derek Cianfrance (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Como este filme de 2010, do diretor norte-americano Derek Cianfrance, que vasculha a complexidade das relações conjugais, preferi pedir socorro para efetuar esta análise. Por isso, a maior parte do texto que se segue foi escrito pela psicóloga Carmen Benedetti, cinéfila, que possui mestrado e doutorado em psicologia, com formação em psicodrama. Tem experiência prática nos assuntos tratados no filme, porque clinica há mais de 25 anos.

“Namorados para Sempre” é um retrato sensível e profundo das relações conjugais, tomando como paradigma o casal Cindy e Dean. O diretor Cianfrance recorreu à “montagem paralela”, ressaltando o contraste entre: de um lado, os acontecimentos do início da relação até o casamento; e, de outro lado, os acontecimentos que levaram ao declínio e ao fim da relação marital do casal. Os anos que transcorrem entre esses dois momentos da vida de Cindy e Dean não são mostrados no filme.

1. O início do relacionamento

A análise que se pretende aqui é de buscar, na história prévia do casal, os sinais que posteriormente se relacionarão com a crise conjugal e o rompimento da relação.

Como sempre acontece na fase de conquista, o comportamento de Dean em relação a Cindy é caracterizado por um esforço de se tornar atraente aos olhos dela, mostrando bom humor, veia artística e cuidado com a possível fragilidade da moça. Em uma cena ilustrativa dessa fase da relação, Cindy recita uma parlenda utilizada para decorar os nomes dos presidentes norte-americanos. Ela dança desengonçado, ele canta desafinado uma canção cheia de chavões sobre o amor. A tentativa de se impressionarem mutuamente e a qualidade artística dessa exibição é lastimável e causa ao espectador certa piedade.

De início, Cindy e Dean desenvolvem uma relação em que predomina o desejo genuíno de construir algo diferente do que viveram: os pais de Dean se separaram quando ele ainda era jovem, os pais de Cindy não se amavam, segundo sua perspectiva, e viviam em uma relação pautada pelo desrespeito e pela agressividade do pai. Numa conversa de Cindy com a avó, esta aconselha a neta a ser cuidadosa na escolha da pessoa por quem ela se apaixonar; Cindy responde que não quer ter um relacionamento como o dos pais e, imaginando que um dia eles teriam se amado, pergunta se o amor entre eles teria acabado antes de ela nascer.

Trabalhando como funcionário de uma empresa de mudança, Dean se mostra muito cuidadoso com os pertences de um idoso, empático com sua fragilidade, atitudes que serão atraentes para Cindy. Ela tivera um relacionamento com Bobby Ontario. Este foi descuidado e a engravidou. Depois deste evento, atendendo apenas às suas necessidades, Cindy rompe com Bobby. A falta de cuidado de Bobby durante a relação, correndo o risco de engravidá-la, abre a porta para a entrada de Dean e de todos os seus cuidados. Aliás, a primeira fala de Dean quando conhece Cindy é sobre ser uma pessoa de confiança, supondo que ela esteja pensando que ele estaria roubando dinheiro do idoso que mora no prédio. É como se ele dissesse: sou de confiança e darei a você o que você quiser. Ela acredita e se frustra e ele acredita que, se assim o fizer, terá o retorno que merece. Mas ele também se frustrará.

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec