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Dom Julio Endi Akamine

A conquista de Jerusalém

22 de Março de 2024 às 22:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
Artigo
Artigo (Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

Jesus entrou na cidade de Jerusalém (Mc 11,1-10). O que seria uma simples caravana de galileus peregrinando a Jerusalém para a celebração da Páscoa, se transformou em uma entrada alegre e festiva. Não é uma entrada triunfal, mas uma entrada reveladora. Ela revela quem é Jesus: Ele é o filho de Davi; é o Bendito que vem em nome do Senhor; é o rei Messias!

Jesus é recebido com rei messiânico! E Jesus aceita essa aclamação, mas salienta no seu modo de agir e se comportar que é um rei pacífico. Ele não se apresenta com um aparato militar nem é acompanhado de cortesãos tampouco se cerca de serviçais. Ele vem montado num jumentinho e se apresenta desarmado e humilde. Ele não vem para conquistar pelas armas, mas deseja conquistar os corações. Nesse sentido Ele é rei, e é isso que a entrada em Jerusalém revela de Jesus.

Os ramos que são levados na celebração do Domingo de Ramos exprimem que os cristãos foram conquistados por Jesus.

Não podemos esquecer que no Domingo de Ramos nós entramos no mistério do Senhor crucificado, morto, sepultado e ressuscitado. Entrar no mistério do Senhor consiste em padecermos com Ele para com Ele ressuscitar; é passar da morte para a vida, do pecado para a graça, do homem velho para o homem novo em comunhão com Jesus Cristo.

O relato da morte de Jesus não é uma simples recordação. Trata-se do entrar com Jesus nos eventos da sua paixão, morte e ressurreição. A liturgia nos põe diante da seguinte alternativa: “Hosana ao Filho de Davi” ou “Crucifica-o”. São dois evangelhos: no início da procissão de ramos, o povo aclamou: “Hosana ao Filho de Davi”; no relato da paixão vemos a multidão pedir: “Crucifica-o”.

Cabe a nós escolhermos com que atitude nós queremos entrar na história da Paixão de Cristo: com a atitude do povo que aclamou hosana, com o gesto do Cirineu que se coloca ao lado de Jesus para ajudá-lo a carregar a cruz, com as mulheres que choram por Jesus, com a fé do centurião que bate no peito, com o arrependimento do bom ladrão, com a fidelidade de Maria que permanece ao pé da cruz? Ou entramos no mistério da Paixão do Senhor com o gesto da traição de Judas e de Pedro, com a omissão de Pilatos que lavou as mãos, com a curiosidade dos que olham tudo de longe, com o escárnio e a zombaria dos que torturam Jesus, com o insulto do malfeitor crucificado e que desafia Jesus a se salvar?

Como você deseja entrar no mistério da Paixão e Morte do Senhor?

A Paixão de Jesus não é um relato do passado. Jesus continua na prisão, continua atado à coluna, sendo torturado e ofendido, está ainda sofrendo processo injusto, sendo preterido ao criminoso; continua no sepulcro lacrado por uma pesada pedra, porque naqueles que continuam sofrendo, Jesus continua sofrendo. Enquanto durar o sofrimento da humanidade, principalmente dos mais pobres, enquanto subsistir a dor e o pecado no mundo, Jesus está ainda misteriosamente no sepulcro; não ressuscitou ainda totalmente. Mais uma vez somos colocados diante da pergunta: como nós entramos no mistério da Paixão de Jesus que continua sofrendo e morrendo nos sofredores deste mundo?

Toda a nossa vida deve ser, em certo sentido, uma semana santa. Como vamos vivê-la?

Possamos viver a grande semana da santa da vida com e como Jesus, e como tantos outros bons Cirineus, como Maria, o Centurião Romano e o bom ladrão!


Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba