Celso Ming
Asfixia do turismo de massa
Mesmo depois dos cada vez mais exigidos pré-agendamentos, as filas de espera são intermináveis, os visitantes são obrigados a percorrer cada lugar quase correndo
A ideia ainda prevalecente é de que turismo é relax, é desfrute de coisas boas. Mas está deixando de ser. Cada vez mais, o turismo passoua ser uma experiência carregada de estresse. E isso vale tanto para turistas quanto para moradores nos principais destinos.
É o que há alguns anos passou a ser chamado pelos especialistas de overtourism, ou turismo em excesso. Especialmente após a pandemia, quando as pessoas finalmente puderam sair da toca, mas já antes dela — as cerca de 300 cidades mais atraentes foram invadidas por levas e levas de turistas.
Mesmo depois dos cada vez mais exigidos pré-agendamentos, as filas de espera são intermináveis, os visitantes são obrigados a percorrer cada lugar quase correndo, um grupo trombando com o anterior e empurrado pelo de trás, sem tempo para uma contemplação ou reflexão sobre o que presenciam.
É assim na Capela Sistina, no Museu do Louvre, na Sagrada Família de Barcelona, na Acrópole de Atenas, em Machu Picchu, no Peru. Taxistas muitas vezes mal-humorados se recusam a fazer corridas. Restaurantes já não aceitam reservas e deixam os clientes esperando um tempão por uma mesa.
Antes disputado pelos grandes centros porque garantiam aumento de faturamento e de arrecadação, o turista começa a ser encarado como um problema e não é tão bem-vindo como antes.
Em Barcelona ou em Paris, por exemplo, os aluguéis residenciais ficaram altos demais: a destinação de apartamentos, casas ou quartos para aluguéis por temporada via Airbnb, tornou a moradia proibitiva para os moradores locais.
Cidades como Veneza e Amsterdam se sentiram degradadas pelo assédio predatório e por desperdícios de toda ordem. Neste verão, várias ilhas gregas declararam-se em colapso pelo excesso de visitantes.
Cidades portuárias atraentes, como Kusadasi, na Turquia, e Dubrovnik, na Croácia, planejam restringir os grandes cruzeiros, porque esses se limitam a despejar milhares de passageiros, uma leva após a outra, que saturam os pontos mais procurados e não consomem nada, porque se alimentam e dormem a bordo.
O Brasil não está fora dessa sina. Visitas às Cataratas do Iguaçu já exigem pré-agendamento. Na alta estação, as estradas para o litoral paulista ficam intransitáveis e as cidades já não conseguem atender à demanda de água e de coleta de lixo. Ubatuba, por exemplo, passou a cobrar taxa de acesso ao município.
Embora de enorme importância, equivalente a 3,0% do PIB global em 2023, o turismo precisa ser repensado para devolver às pessoas o prazer das viagens e do acesso a outras culturas e, ainda, evitar a deterioração das cidades.
Celso Ming é comentarista de economia