Alexandre Garcia
Política e crime
Quando um país não resolve o seu problema, é porque não há vontade política de resolver
O crime nos tira um pedaço do PIB. É o que nos avisa o FMI. Cálculo do Fundo Monetário mostra que se o Brasil tivesse índice de criminalidade apenas igual à média mundial, avançaria no mínimo 0,6 ponto percentual no Produto Interno Bruto, isto é, o equivalente a 65 bilhões de reais em bens e serviços. Isso sem contar a perda de 40 mil vidas por ano e o medo generalizado. Nosso número é de 19 homicídios por 100 mil habitantes. A média mundial é de menos de 6 por 100 mil. Regiões antes de comércio movimentado nos centros do Rio e de São Paulo estão abandonadas, de portas fechadas, por causa de roubos e saques. A falta de segurança afasta investidores, como atestam os últimos números. Ao contrário do Brasil, em El Salvador, acaba de ser demonstrado nas urnas que segurança pública é um excelente investimento político.
O presidente que foi implacável com o crime, encheu prisões e limpou as ruas, foi reeleito com estrondosa margem de 85%, além de receber como aliados 58 dos 60 congressistas. Na primeira entrevista, provavelmente perguntado com referência ao Brasil e Lula, Nayb Bukele disse que El Salvador está resolvendo esse problema por vontade política.
“Isso se aplica ao Brasil e a qualquer parte do mundo”. Perguntado se havia tratado sobre isso com o presidente Lula, respondeu que conversou algumas vezes com ele mas que Lula nunca tocou no assunto Segurança Pública. “Imagino que ele terá sua forma de abordagem da situação.” E repetiu que o problema tem solução se houver vontade política. Admitiu que El Salvador e Brasil podem ser diferentes, mas quando um país não resolve o seu problema, é porque não há vontade política de resolver.
Depois, Bukele tocou num ponto: “Muitas vezes não resolvem porque são sócios dos delinquentes. Se atacar o crime, perde um sócio de seu negócio. O exemplo de El Salvador serve para qualquer país do mundo”. Aí a gente constata o que aconteceu também com o México, Colômbia e Equador, com o crime e a política mancomunados. Hoje, no Brasil, há duas correntes: O ministro da Justiça e Segurança afirmando que a origem do crime é a exclusão social e o encarceramento, versus três governadores — de Goiás, Minas e São Paulo — e o presidente do Congresso que querem eliminar as saidinhas, para manter fora das ruas os agressores da sociedade, acreditando que ser criminoso é uma questão de desvio de caráter. Eles se uniram e já andou o projeto de lei aprovado na Câmara por 311 votos, que se arrastava no Senado há um ano e meio. Parece que faltava a “vontade política” mencionada por Bukele. O projeto agora já tem urgência e será logo concluído no plenário.
Se o encarceramento faz o criminoso, os presos do 8 de janeiro estariam sendo transformados em criminosos nos presídios de Brasília? E se a exclusão social é que faz o criminoso, porque tantos incluídos engravatados são os criminosos descobertos na Lava Jato? É preconceituoso julgar que um excluído socialmente, isto é, pobre, tenha que ser, por isso, criminoso. Além disso, a pregação oficial dos últimos dias é por não prender autores de pequenos furtos, como é no Supremo a não criminalização de traficantes de pouca quantidade de droga. Isso significa não interferir no aprendizado dos futuros grandes criminosos. O perigo de deixar furtar é depois, deixar roubar; por fim, deixar matar.
Alexandre Garcia é jornalista