Vanderlei Testa
Tripé histórico de Sorocaba
Quando um aluno de Sorocaba frequenta a escola, e aprende a matéria História, há um período em que essa disciplina relatada pelo professor explica a época do Império no Brasil. Os historiadores dos anos de 1800 até a virada do século 20 traçam o perfil de Dom Pedro I (Dom significa Senhor), como um cidadão português considerado autoritário. Como acontece, até hoje, esse tipo de comportamento atrai ao líder, seja de uma nação ou empresa, uma imagem negativa. No caso de Dom Pedro I, ele acabou por conquistar um desgaste político. Assim, sua renúncia foi inevitável.
Já o Segundo Reinado, liderado pelo sucessor, Dom Pedro II, teve uma duração de aproximadamente 50 anos. Não pretendemos, aqui, detalhar o fim do trabalho escravo nem focar a Guerra do Paraguai, fatos históricos que marcaram o período de Dom Pedro II. Já o início da imigração, nos anos de 1880, considero relevante para o tema desta crônica. Como descendente de italianos que vieram para o Brasil nos anos de 1889, já pesquisei a minha árvore genealógica. Sempre tive muita curiosidade em saber quais iniciativas de empreendedorismo foram desenvolvidas por nossos antepassados, em Sorocaba, durante o Segundo Império.
Nesse contexto, historiadores, como o inesquecível Aluísio de Almeida, nome escolhido pelo monsenhor Castanho de Almeida para identificar suas obras historiográficas, fazem referência ao Gabinete de Leitura Sorocabano, à Santa Casa de Misericórdia e à Loja Maçônica Perseverança III como as três entidades fundadas, em nossa cidade, nesse período.
Laor Rodrigues, ex-presidente do Gabinete de Leitura, 70 anos ininterruptos como associado, é um dos mais entusiasmados sorocabanos em buscar informações dessas organizações para registrar em livro. Conversei com o Laor, e ele me contou que, há três anos, persiste no objetivo de pesquisar o passado sorocabano, a partir da leitura de documentos oficiais e registros de vários historiadores que fazem parte do acervo do Gabinete de Leitura.
Segundo Laor, no Gabinete, há uma vasta documentação histórica, desde o início das atividades dessa centenária organização, datado de 13 de janeiro de 1867. Também há registros dos primórdios da Loja Maçônica, em Sorocaba, a partir de 1869. “Esses documentos estão disponíveis para pesquisas, inclusive em edições dos 120 anos de existência do jornal Cruzeiro do Sul”, destacou Laor, que participa há 60 anos como membro da Perseverança III.
Já a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba, por ser fundada e considerada, numa segunda fase das suas atividades filantrópicas na área da Saúde, a partir de 1899, não conservou a sua documentação histórica da primeira fase. Nestes 157 anos do Gabinete de Leitura, 154 anos da Perseverança III e 135 anos da Santa Casa, inúmeros cidadãos sorocabanos manifestaram o seu patriotismo, como os 31 instituidores do Gabinete de Leitura, motivados pelo empreendedor Luiz Matheus Maylasky, fundador da Estrada de Ferro Sorocabana. O Gabinete de Leitura traz na sua história o mérito de acolher em sua sede a instalação de 36 entidades, das quais 16 são centenárias.
Os provedores da Santa Casa de Sorocaba, que assumiram nestes 135 anos a Provedoria da Santa Casa, são lembrados pelas famílias em suas respectivas épocas. De 1921 até 1945, o Comendador Abílio Soares comandou, com os membros da irmandade da Santa Casa, a gestão dos desafios do atendimento à população carente. De tradicional família do comércio varejista de Sorocaba, Belarmino de Moraes Arruda assumiu a Provedoria de 1945 a 1974. Fábio Leme dos Santos, filho de Valter Leme dos Santos, conta que o seu pai se dedicou à Santa Casa como provedor, desde 1988, ficando até o seu falecimento. Atualmente, o padre Flávio Jorge Miguel é o presidente da Santa Casa, com uma gestão inovadora em termos de realizações e acolhimento aos enfermos. Certamente, é uma nova fase da história da centenária instituição de Sorocaba.
O tripé, formado pelas três principais colunas -- Cultura (Gabinete de Leitura), Saúde (Santa Casa) e Comunitária (Perseverança III) --, sustenta centenas de anos da história dos 370 anos de Sorocaba, a ser comemorados em agosto deste ano. Desse modo, os estudantes e os professores de História, participantes da rede pública e particular de ensino de Sorocaba, em suas pesquisas, poderiam contribuir com a cultura sorocabana, compartilhando informações ao Gabinete de Leitura Sorocabano, por meio de Laor Rodrigues, idealizador do livro que intitulei, na imaginação criativa de publicitário, de “Três Colunas do Segundo Império em Sorocaba - Gabinete de Leitura, Santa Casa e Perseverança III - na história de Sorocaba”. O atual presidente do Gabinete de Leitura é Luciano Viana de Carvalho.
Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário; escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul